Em meio a um ciclo de crise de quase sete anos, as usinas de açúcar e álcool do Centro-Sul do País voltaram a ganhar algum fôlego, impulsionadas pela crescente demanda do etanol nos postos de combustíveis. Em maio, o consumo foi recorde para o mês no País, de 1,43 bilhão de litros, alta de 44,5% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado de janeiro a maio, o volume comercializado de etanol hidratado (o que é vendido nos postos) atingiu 6,9 bilhões de litros, 35% mais que no mesmo período do ano passado.
A expectativa é de que o consumo do combustível siga firme e absorva boa parte da cana que está em plena colheita, de acordo com usinas e especialistas ouvidos pelo Estado. Nesta safra, a 2015/16, a estimativa é colher 590 milhões de toneladas de cana, 20 milhões de toneladas a mais em relação ao ciclo anterior. A área plantada, que teve um boom entre 2003 e 2009, saltando de 6 milhões de hectares para 9 milhões de hectares, reflexo dos pesados investimentos de expansão e de consolidação do setor, com a entrada de grupos estrangeiros, deverá se manter estável.
Mas os avanços tecnológicos implementados durante o período de ouro no setor, com o plantio de variedades de cana mais produtivas e colheitadeiras mais eficientes, permitem aos grupos mais capitalizados extrair mais açúcar e etanol sem aumentar a área plantada. Ainda aproveitam o bagaço para gerar energia.
Em canaviais do Centro-Sul onde a mecanização domina cerca de 90% da área plantada da região, o que diminuiu drasticamente a queima da palha da cana e substituiu os cortadores de cana por mão de obra mais qualificada (ver matéria abaixo), já é possível ver drones sobrevoando as plantações e apontando falhas de plantio e pragas.
“Já usamos drones em nossas usinas há pelo menos três anos”, diz Pedro Mizutani, vice-presidente da Raízen Energia, joint venture entre o grupo Cosan e a Shell. A Raízen, com 24 usinas e capacidade para moer 60 milhões de toneladas de cana/ano, foi uma das pioneiras do setor a fazer diversificação de seus negócios, com a utilização do bagaço da cana para produzir energia. Com isso, o grupo conseguiu reduzir sua exposição aos ciclos de baixa do açúcar no mercado internacional.
A empresa é uma das que mais comercializam no País energia de bagaço de cana, produto que já responde por cerca de 8% a 10% do faturamento das usinas que vendem energia às distribuidoras. A empresa também foi a primeira do setor a abrir seu capital, seguida pela São Martinho, considerada uma das mais eficientes do País, e pelo Tereos.
Nas sete usinas do grupo francês Tereos, o Veículo Aéreo Não Tripulado (Vant) também já percorre há um ano os canaviais para indicar onde se pode obter maior eficiência no plantio. O investimento nessa tecnologia foi de R$ 350 mil, mas compensa, afirma José Olavo Vendramini, gerente de desenvolvimento técnico do Tereos. “Começamos os testes há dois anos e meio. Antes, os agrônomos sobrevoavam os canaviais com helicópteros para fotografar e calculavam falhas por amostragem, sem muita precisão.”
Apesar dos avanços, uma grande parte das usinas ainda passa por crise financeira, reflexo dos investimentos feitos em expansão de área e aquisições de usinas, entre 2003 e 2007, com o impulso dos carros flex no Brasil. O etanol era considerado, naquele período, a bola da vez e atraiu grandes investidores ao País.
Com as aquisições, fazendeiros começaram a substituir suas áreas de grãos por cana e fecharam contratos de arrendamento de terras para as usinas, já que poucas indústrias do setor têm terra própria. Ao adquirir as usinas, os novos controladores herdaram os contratos de arrendamento de terras e os fornecedores de cana do antigo gestor.
O movimento de expansão começou a se arrefecer em 2008, com a crise financeira global, e reduziu de vez entre 2009 e 2010, com o congelamento dos preços da gasolina. Endividadas, boa parte das usinas começou a se desfazer de seus ativos e deixou de investir na renovação de seus canaviais.
A expectativa agora é de retomada da demanda por etanol, que tem potencial para chegar a 1,8 bilhão de litros mensais. A reação do consumo teve como reflexo um pacote de medidas anunciado pelo governo desde o início do ano, como a liberação do reajuste do preço da gasolina em fevereiro, a elevação do PIS/Cofins e a retomada parcial do imposto sobre a gasolina (Cide), em maio, além do aumento da mistura do etanol anidro na gasolina, de 25% para 27%.
Iniciativas como a de Minas Gerais, que em março reduziu o ICMS para o etanol de 19% para 14% e aumentou o da gasolina de 27% para 29%, também podem elevar o consumo. Essas recentes ações foram bem recebidas pelo setor, mas as usinas afirmam que ainda é cedo para saber se poderão retomar os investimentos. “O consumidor tem respondido bem migrando da gasolina para o etanol”, diz Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.