As famílias brasileiras apertaram o cinto em todas as frentes possíveis em 2015. Desde os bens duráveis, considerados mais supérfluos, até os produtos não duráveis, que incluem itens essenciais como alimentos, sofreram com o orçamento mais apertado e o aumento do desempenho. O resultado foi um recuo de 3,5% no consumo das famílias em 2015 ante 2014, segundo estimativa da Fundação Getulio Vargas (FGV) por meio do Monitor do PIB.

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Um recuo nessa magnitude não encontra precedentes na série atual (com início em 1996) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo oficial. Além disso, interrompe uma sequência de 11 anos (2004-2014) de crescimento contínuo no consumo das famílias.

Os dados desagregados da FGV mostram que o aperto mais intenso mirou nos bens duráveis, cujo consumo encolheu 15,3% no ano passado. Os importados levaram o maior tombo (-22,8%), embora os nacionais não tenham ficado muito para trás (-14,0%).

O consumo de produtos semiduráveis, por sua vez, encolheu 6,9% em 2015 ante 2014. Já o de produtos não duráveis cedeu 2,3%. Em ambos os casos, a demanda por importados foi a que sofreu o corte mais significativo.

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O volume de serviços consumido pelas famílias brasileiras também diminuiu em meio às restrições no orçamento. A queda foi de 0,9%, apontou o Monitor do PIB.

FBCF

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O tombo de 14,7% na Formação Bruta de Capital Fixo (como os investimentos são medidos no PIB) em 2015 ante o ano anterior, estimado pelo Monitor do PIB da FGV, foi puxado pela retração na demanda por máquinas e equipamentos, principalmente nacionais. O resultado da indústria da construção também contribuiu negativamente para o número anual.

Segundo a FGV, a demanda total por máquinas e equipamentos encolheu 26,1% no ano passado, graças ao mau desempenho obtido tanto por produtos nacionais (-27,7%), principalmente, e também por importados (-20,2%). Já os investimentos em construção recuaram 9,6%. Outros produtos ligados a investimentos, por sua vez, tiveram queda de 5,4% na demanda.

Exportações

Uma das poucas notícias positivas nos dados do Monitor do PIB, produzido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, o avanço de 5,7% no volume de exportações em 2015, foi impulsionado principalmente pelos produtos da indústria extrativa-mineral e do setor agropecuário. Os bens de consumo duráveis também registraram aumento nos embarques após o tombo de 2014.

O ano de 2015 foi marcado pela desvalorização de quase 50% no real ante o dólar, o que contribuiu para que os produtos brasileiros ficassem mais baratos lá fora. Com isso, o volume de exportações da indústria extrativa mineral cresceu 18,7% no ano passado, enquanto os produtos agropecuários tiveram aumento de 17,5% nos embarques para o exterior.

Os bens de consumo duráveis, cujas exportações encolheram 35,0% em 2014 ante 2013, conseguiram uma recuperação parcial no ano passado, com alta de 8,1%. Os bens intermediários, por sua vez, venderam 7,5% a mais para o exterior.

Os bens de capital reduziram drasticamente a magnitude de queda, mas ainda não tiveram fôlego suficiente para sair do negativo. As exportações encolheram 3,1% no ano passado, apontou o Monitor do PIB. Também tiveram recuos nas exportações os bens de consumo semiduráveis (-1,0%) e não duráveis (-1,4%).

Ao todo, o volume de exportações dos produtos industrializados cresceu 4,6% em 2015 ante 2014. Já os serviços registraram 15,4% menos de vendas para o exterior.

O Monitor do PIB é um indicador de volume que estima as Contas Nacionais brasileiras de acordo com as mesmas fontes de informação e metodologia empregadas pelo IBGE, responsável pelas estatísticas oficiais do PIB. As informações são disponibilizadas mensalmente para 12 atividades econômicas e cinco componentes da demanda em dados com e sem ajuste sazonal.

Apesar do avanço nas exportações, a economia brasileira encolheu 3,8% em 2015 ante 2014, segundo o Monitor. Se confirmado pelos dados oficiais a serem divulgados pelo IBGE em 3 de março, será o pior resultado desde 1990 (-4,3%).