O discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na última segunda-feira animou os empresários da construção civil. Lula anunciou que irá “mobilizar imediatamente os recursos públicos disponíveis nos bancos oficiais e nas parcerias com a iniciativa privada para a ativação do setor da construção civil e das obras de saneamento”. “Além de gerar empregos, tal medida ajudará à retomada gradual do crescimento sustentado”, discursou.

“O pronunciamento veio ao encontro do nosso interesse não só no aspecto empresarial, mas no social”, comenta Ramon Andres Doria, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon/PR). “A expectativa é grande porque o setor da construção civil gera empregos imediatos. Isso é muito importante porque o governo federal esqueceu da habitação popular e há necessidade muito grande de fazer investimentos nesse segmento pelo resgate social”, avalia.

Segundo Doria, o segmento da construção civil não fugiu à regra, passando por dificuldades nos últimos anos. “Agora aguardamos a tão esperada retomada, torcendo para que esse governo realmente encontre o caminho da produção. Os sinais são positivos”, afirma. Mas apesar do cenário otimista em relação aos próximos anos, Doria ressalta que não há euforia no setor. “Temos que ficar com os pés no chão e retomar a atividade devagar, para continuarmos com a moeda estável e não cairmos de novo na inflação”, pondera.

Para resolver o déficit habitacional de cerca de 6,6 milhões de moradias no Brasil (1,2 milhões das quais na área rural), o novo governo terá que investir R$ 15 bilhões/ano nos próximos quatro anos, conforme estimativa do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio de Janeiro. O Paraná é o segundo Estado do País com menor déficit habitacional (9,8% do número de domicílios permanentes), de acordo com estudo da Fundação João Pinheiro, que apontou um déficit urbano de 229.069 moradias no Estado, sendo 70.489 na Grande Curitiba. Nas duas gestões do governador Jaime Lerner, a Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná) investiu R$ 580 milhões na construção de moradias para 60 mil famílias em 357 municípios.

Formalização

Doria só espera que os programas habitacionais de Lula e Roberto Requião, governador eleito do Paraná, não incluam projetos de mutirão. “Construir sem registrar os empregados e sem pagar os encargos para atender somente o aspecto político não resolve o problema. Não podemos fomentar mais a informalidade”, considera. O presidente do Sinduscon/PR destaca que o Paraná é um dos estados que tem utilizado projetos de mutirão para construção de casas populares. “É um absurdo o governo estadual usar dinheiro do FGTS, gerado pelos trabalhadores formais, para financiar obras informais através da Caixa Econômica Federal”, critica.

Em 2001, o Paraná tinha 131.558 mil trabalhadores ocupados na indústria da construção civil, dos quais 58.583 (45%) com carteira assinada, segundo o IBGE. “Temos que retomar o setor de forma legal, através de empregos com carteira assinada. Isso gera impostos, que são devolvidos à sociedade em novos investimentos, além de garantir aposentadoria ao trabalhador”, defende Doria. Levantamento feito pela consultoria econômica do Sinduscon/PR revela que 43,8% do custo total das obras é formado por impostos.

Dias melhores…

Por causa da instabilidade econômica, Doria prevê que o faturamento e a produção da indústria da construção no Paraná fiquem estáveis nesse ano, comparado a 2001. “Tínhamos esperança de que, com as eleições, o governo talvez alimentasse o setor com obras públicas, o que não aconteceu. Esperamos que o ano que vem seja melhor”, diz, ressaltando que os insumos da construção são todos nacionais, não atrelados ao dólar. Na opinião de Doria, o discurso de geração de empregos de Lula pode fazer a taxa de juros cair, mas não em curto prazo.

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