O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado nesta quinta-feira, 30, pelo Banco Central, avalia que a queda na inflação espalhada por mais setores fortalece a chance de cortes de juros maiores nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), em comparação às duas últimas decisões do colegiado. Em ambas as ocasiões o corte na Selic – atualmente em 12,25% ao ano – foi de 0,75 ponto porcentual.

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“A consolidação do cenário de desinflação mais difundida, que abrange os componentes da inflação mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, fortalece a possibilidade de uma intensificação moderada do ritmo de flexibilização da política monetária, em relação ao ritmo imprimido nas duas últimas reuniões do Copom”, afirma o relatório.

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O colegiado ressaltou, entretanto, que um possível aumento nesse ritmo de corte de juros depende não só da estimativa do ciclo de distensão de preços, mas também da evolução da atividade econômica.

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“O Copom entende que a extensão do ciclo de flexibilização monetária, inclusive as taxas vigentes ao longo de 2018, dependerá das projeções e expectativas de inflação para 2019, mas também das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira. Essas estimativas naturalmente envolvem incerteza e poderão ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo”, acrescenta o BC no documento.

Robustez

Segundo a autoridade monetária, o processo de desinflação em curso está mais difundido e esse movimento parece mais robusto. No documento, os diretores do BC dizem ainda que há mais confiança na continuidade do processo de desinflação.

“A inflação apresenta dinâmica favorável. O processo de desinflação em curso mostra-se mais difundido, abrangendo os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”, cita o BC no documento divulgado. “Isso denota maior robustez do movimento – favorecido ainda pelo choque favorável nos preços de alimentos – e aumenta a confiança na sua continuidade.”

No documento, os diretores do BC notam que a inflação ao consumidor até fevereiro “situou-se em patamar inferior ao esperado pelo segundo trimestre consecutivo”. A queda nos preços de alimentos e a disseminação do processo de desinflação favoreceram essa evolução mais benigna. No segmento agropecuário, o BC destacou nominalmente “as reduções nos preços dos itens feijão, batata-inglesa, aves, soja, milho e bovinos”.

No atacado, diz o relatório de inflação, houve estabilidade dos preços, com alta na indústria. “Apesar da aceleração dos preços de produtos industriais, a transmissão da evolução recente do conjunto de preços ao produtor para a inflação ao consumidor tende a permanecer contribuindo para a desinflação no curto prazo”, cita o documento ao lembrar do “reflexo da evolução benigna dos preços de produtos agropecuários, que têm sido mais relevantes para a dinâmica do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)”.

1º trimestre de 2009

O Banco Central apresentou pela primeira vez no RTI a projeção para a inflação em 12 meses até o primeiro trimestre de 2019. De acordo com o cenário de referência – com juro e câmbio estáveis – a inflação em 12 meses medida pelo IPCA terá alta de 4,1% ao fim de março de 2019.

O número indica aceleração a partir do quarto trimestre de 2018, já que a inflação em 12 meses esperada nesse cenário é de 3,9% até o terceiro trimestre de 2018, 4% até o quarto trimestre de 2018 e 4,1% até o primeiro trimestre de 2019.

No cenário com juros e câmbio flutuantes conforme a pesquisa Focus, a projeção para a inflação em 12 meses até o primeiro trimestre de 2019 é de 4,6%. No cenário com juros da pesquisa Focus e câmbio constante, a estimativa para a alta do IPCA é de 4,4%. Por fim, o último cenário híbrido com câmbio da pesquisa Focus e juro constante indica alta do IPCA de 4,3% para o mesmo período.

Cenário híbrido

O BC divulgou também projeções para o IPCA em dois cenários híbridos – que combinam hipóteses com condições constantes e parâmetros da Pesquisa Focus.

No primeiro cenário híbrido, que considera a taxa de câmbio constante em R$ 3,10 e a evolução da Selic (a taxa básica de juros) conforme as projeções do relatório Focus, a projeção de inflação para 2017 passou de 4,7% para 3,9%. Para 2018, a estimativa foi de 4,5% para 4,3%. Esse cenário é considerado pelo BC mais relevante em um contexto de flexibilização monetária.

No segundo cenário híbrido – que considera a taxa de câmbio variando conforme o Focus e a Selic estável em 12,25% ao ano -, a projeção de inflação para 2017 passou de 4,4% para 3,9%. Para 2018, a estimativa foi de 3,7% para 4,2%.

Curto prazo

O Banco Central ainda divulgou no Relatório Trimestral de Inflação as projeções de inflação de curto prazo, que abarcam os meses de março, abril e maio. A previsão para o IPCA em março é de 0,28%. Já a projeção para abril é de 0,53% e, para maio, de 0,42%.

No mais recente Relatório de Mercado Focus, divulgado na última segunda-feira, as projeções do mercado financeiro para a inflação eram de 0,23% para março e 0,43% para abril.

Para o BC, apesar a perspectiva de retorno de alta dos preços dos alimentos e da aceleração das tarifas de energia, o IPCA deve desacelerar em março em decorrência a dissipação dos efeitos dos reajustes de educação e transporte público, além da redução dos preços dos combustíveis.

Já para abril, o relatório destaca as elevações nos preços de passagens aéreas, gás de botijão e outros itens monitorados, movimento que deve se inverter em maio com a dissipação dessas pressões.

Por isso, a inflação esperada para o trimestre – 1,23% – tende a ser menor que a registrada no mesmo período de 2016, quando ficou em 1,83%.

O RTI esclarece ainda que o cenário básico do BC não considera os efeitos da alteração na forma de devolução dos valores de encargos referentes à usina de Angra 3, que forma divulgados após a data de corte do documento (22 de março). As contas de luz podem cair 20% em abril devido a essa medida sobre a usina nuclear.

“Caso a devolução ocorra em abril, por exemplo, a inflação desse mês poderá ser significativamente menor que os 0,53% considerados, com efeito oposto ocorrendo nos dois meses seguintes, devido ao retorno da tarifa ao patamar anterior. Nesse contexto, a devolução dos valores relativos aos encargos de Angra 3 teria impactos relevantes sobre as variações mensais do IPCA, sem, contudo, alterar significativamente o cenário para o ano de 2017”, explica o BC.

Choque de oferta favorável

A autoridade monetária repetiu a avaliação já anunciada na última decisão de política monetária de que há “riscos em ambas as direções” para a trajetória dos preços. Assim como na mais recente reunião do Copom, o documento diz que “o choque de oferta favorável nos preços de alimentos poderia produzir efeitos secundários e, portanto, contribuir para quedas adicionais das expectativas da inflação e da inflação em outros setores da economia”.

Nesse mesmo trecho do documento, os diretores do BC notam também que “o alto grau de incerteza no cenário externo poderia dificultar o processo de desinflação”. Além disso, o documento também cita que a “recuperação da economia poderia ser mais ou menos demorada e gradual do que a antecipada”.

Ainda na análise de riscos, o BC ressaltou ainda “a importância da aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira para a sustentabilidade da desinflação e para a redução de sua taxa de juros estrutural”. A avaliação já constava na ata da reunião de fevereiro do Copom.

Nesse contexto, considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom entendeu que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, com peso gradualmente crescente, de 2018, é compatível com o processo de flexibilização monetária.

Nuci

O Banco Central avaliou em box incluído no RTI que o baixo patamar do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) influencia, mas não é impedimento para a retomada gradual dos investimentos nos próximos trimestres.

O box foi feito porque o Nuci da indústria de transformação, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), encontra-se em patamar historicamente reduzido, sugerindo limitações para retomada dos investimentos em bens de capital no médio prazo.

Produtividade do trabalho

O BC também publicou outro box no Relatório Trimestral de Inflação sobre a evolução da produtividade do trabalho e do nível de ocupação no Brasil. Segundo a autoridade monetária, os resultados obtidos sugerem que a contribuição da produtividade do trabalho tende a ser superior à da população ocupada para a retomada do crescimento econômico projetado pelo mercado (dados do Relatório Focus). Esse balanço é positivo para evolução da inflação nos próximos anos e para o processo de desalavancagem das empresas, pois contribui para reduzir a participação da mão de obra no custo total de produção.

Inércia

Em outro box do Relatório, a autoridade monetária conclui que a inércia foi um importante fator de resistência da inflação em 2016. Por outro lado, as expectativas de inflação, embora inflacionárias no agregado do período, apresentaram trajetória de significativo declínio, refletindo o processo de ancoragem das expectativas ao longo do período. “No mesmo sentido, a taxa de câmbio passou de fator inflacionário para desinflacionário”, destaca o BC no box.

Taxa de juros real

Segundo o BC, em box sobre a taxa de juros real em períodos de desinflação, é comum ocorrer, num período inicial, movimento inverso entre as taxas reais de juros ex-ante e ex-post. O BC ressalta que a taxa ex-ante tende a cair, refletindo expectativas de flexibilização da política monetária, ao passo que a taxa ex-post tende a subir com a queda da inflação, movimento que, porém, se reverte à medida que a política monetária continua num processo de flexibilização. “Assim, à medida que as condições monetárias vão se normalizando, as duas taxas tendem a convergir”, avaliou o BC.