Rio (AE) – Depois de anos no olho do furacão das críticas mais pesadas à política econômica, os juros e o câmbio, hoje, apesar das reclamações que perduram, são temas nos quais se caminha para o consenso. E talvez sejam uma das áreas que o novo governo terá mais facilidade para manejar, a julgar pela proximidade de opiniões entre os especialistas.
Durante o governo Lula, o Banco Central (BC) praticou uma política monetária duríssima, para trazer a inflação de 12,5%, em 2002, para 3% em 2006. O subproduto da inflação domada foi a combinação de juros reais mais altos do mundo e um dos menores crescimentos entre os países emergentes.
O desempenho pífio da economia levou a muitas críticas sobre o modelo de metas de inflação. Mas, no momento em que se chega ao segundo turno, as equipes econômicas de ambos os candidatos já praticamente abandonaram a idéia de mudar o sistema. Feito o trabalho sujo de derrubar a inflação, parece ter chegado a hora de colher os frutos. O principal é a queda contínua da Selic, a taxa básica de juros – que saiu de 19,75%, em setembro de 2005, para o nível atual de 13,75% -, o que deve acelerar o ritmo de crescimento econômico.
?Eu sugiro que o próximo governo mantenha sem medo a combinação de metas de inflação e câmbio flutuante?, diz Armínio Fraga, ex-presidente do BC. Ele acha que, em 2007, quando o governo for definir a meta de inflação de 2009, ele deve baixá-la de 4,5%, nível já determinado para 2007 e 2008, para 4,0%.
Na verdade, os principais críticos do arrocho monetário, como o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, já não dão tanta ênfase ao assunto, mas ainda têm sugestões técnicas de aperfeiçoamento do regime de metas. Para Mendonça, o tempo de verificação do cumprimento da meta deveria ser de dois anos, e a inflação-alvo deveria ser expurgada de componentes voláteis como petróleo e alimentos.
O fato, porém, é que a discussão sobre o sistema de metas murchou e as atenções concentraram-se no outro lado do arranjo macroecônomico, que é o câmbio flutuante. Mas, apesar de os assessores econômicos dos dois candidatos considerarem que o real está valorizado demais, ninguém sabe exatamente como resolver o problema.
Há leves diferenças de visão sobre como proceder nesse campo. Fraga acha que ?o país poderia caminhar para um regime mais flutuante do que foi nos últimos anos?. Isso significa intervir menos, deixar o dólar cair, o que ia segurar a inflação ainda mais e permitiria ao BC acelerar o corte dos juros. O secretário do Tesouro, Carlos Kawall, já sinalizou, porém, que as compras podem prosseguir até a cobertura de toda a dívida externa, pública e privada.