Rio
– “Nunca nenhum de nós, em toda a nossa experiência, ouviu falar em uma coisa destas, de o controlador recusar um plano para prorrogação da dívida e reestruturação da empresa.” Foi com este tom, de “surpresa e perplexidade”, que José Roberto Mendonça de Barros, um dos membros do Conselho de Administração da Varig, justificou sua renúncia e dos outros três conselheiros, inclusive o presidente da companhia, Arnim Lore.Em coletiva ontem no Rio, os quatro conselheiros criticaram duramente a Fundação Rubem Berta, controladora da Varig, que não teria colaborado com o processo de reestruturação da maior companhia aérea brasileira. “A Varig tem um sério problema de governança”, disse Mendonça de Barros, para quem será “impossível ter uma gestão profissional na empresa” se a fundação continuar ingerindo na gestão.
A renúncia do conselho, anunciada no domingo à noite, foi motivada pela recusa da FRB em aceitar os termos do memorando de entendimentos negociado entre a empresa e seus credores, que iniciaria um processo de capitalização da companhia aérea, com um endividamento de US$ 900 milhões (ou R$ 3,1 bilhões na cotação de ontem) e patrimônio negativo de R$ 1,5 bilhões.
Lore não quis fazer previsões sobre o futuro da companhia após o fracasso do acordo com os credores. “Espero que os acionistas tenham um plano alternativo”, disse. Antes da coletiva, ele foi ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), parte fundamental no processo, avisar sua saída. “Dissemos a eles que não houve alterações no lado técnico”, contou. No final da tarde, Lore iria à sede da empresa, no centro da cidade, para comunicar sua demissão da presidência. “Com estas diferenças, é difícil continuar na companhia”, avaliou o executivo, que foi convidado para a presidência justamente pela FRB, por ter credibilidade junto ao mercado financeiro para tocar o necessário processo de capitalização.
Os membros do conselho reclamam que a fundação se distanciou completamente do processo. “Nem sequer um telefonema foi respondido”, disse Mendonça de Barros, classificando como “renitente e persistente ausência” a postura dos controladores nos últimos meses. Uma das justificativas para a recusa do memorando foi justamente o pouco conhecimento sobre os termos do acordo com os credores.
“A posição para nós é inaceitável. Não há como prosseguir com este tipo de postura dos acionistas, que se recusam a ajudar”, reforçou Clóvis Carvalho, outro conselheiro. Os membros do conselho refutaram todas as justificativas utilizadas pela FRB para recusar o acordo.
Disseram que há, sim, dinheiro novo – US$ 63,7 milhões em créditos novos, US$ 22,7 milhões em devolução de créditos já executados pelos credores e US$ 30,7 milhões em dívidas que os credores concordaram em suspender o pagamento.
A aprovação do memorando era pré-requisito para que o BNDES apresentasse a modelagem para um processo de capitalização da companhia. “O BNDES nunca daria empréstimo antes da aprovação do memorando”, disse Lore, rebatendo as críticas de que o banco ainda não havia se comprometido com o processo, feitas pela FRB. O banco iria apresentar sua proposta no dia 30 de novembro, de acordo com o executivo.