Foto: Tiago Queiroz/Agência Estado |
Bloqueio na BR-163 pediu corredor sanitário nas cidades isoladas. continua após a publicidade |
O Ministério da Agricultura confirmou, no final da tarde de ontem, mais três focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. Com a confirmação, sobe para quatro o número de fazendas infectadas com a doença no estado. A primeira propriedade em que foi detectada a doença foi a Fazenda Vezozzo, no município de Eldorado, a 427 quilômetros de Campo Grande. O segundo foco fica na Fazenda Jangada, que é vizinha à Vezozzo. Nessa propriedade, o rebanho é de 3.548 cabeças, segundo o secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Gabriel Alves Maciel. Os outros dois focos foram registrado nas fazendas Santo Antônio e Guaíra, no município de Japorã.
Este município fica a apenas 4 quilômetros da fronteira com o Paraguai, o que, segundo o secretário, reforça a tese de necessidade de controle da doença nas países que fazem fronteira com o Brasil. Segundo ele, em Japorã as fazendas são de pequeno porte. Na Fazenda Jangada, já foram abatidos 320 bovinos, e 9 tinham sintomas da doença. ?Os sintomas clínicos eram muito parecidos e, como as fazendas são vizinhas, achamos melhor iniciar os abates para impedir a propagação do foco?, disse o secretário.
Os exames foram feitos no laboratório do Ministério da Agricultura, em Belém do Pará. Com os novos focos, mais duas cidades foram interditadas: Sete Quedas e Tacuru. Já estavam interditadas Eldorado, Japorã, Iguatemi, Itaquiraí e Novo Mundo. Na Fazenda Vezozzo, 580 animais foram sacrificados. Nas fazendas onde foram detectados os novos focos, os animais também serão abatidos.
Bloqueio
Além dos pecuaristas, o setor de transporte de carne e de animais também já sofre conseqüências do embargo à carne produzida no Mato Grosso do Sul. Ontem, caminhoneiros bloquearam rodovias dos municípios de Iguatemi e Eldorado. A rodovia federal BR-163, por onde passam mais de 3 mil carretas por dia, é a principal ligação entre os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. Produtores rurais, donos de frigoríficos e de indústrias de laticínios também se uniram ao protesto. Eles querem a criação de um corredor sanitário nos cinco municípios isolados pela Defesa Sanitária.
O diretor-presidente da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), João Cavallero, afirmou ontem, depois da reunião com o governador Zeca do PT, que os R$ 3,5 milhões de recursos emergenciais para aplicar em ações de combate à aftosa já estão nos cofres do governo do Estado.
Excelente proteção
O Departamento de Saúde Animal (DSA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento recebeu ontem comunicado do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa) informando que os testes realizados na vacina utilizada na imunização do rebanho brasileiro oferece excelente proteção contra o vírus tipo ?O?, presente no foco de febre aftosa ocorrido no Mato Grosso do Sul. ?Esse é um sinal claro da eficiência da vacina produzida no Brasil?, comentou o diretor do DSA, Jorge Caetano.
A vacina é produzida por seis laboratórios privados, com funcionamento autorizado pelo Ministério da Agricultura. ?Todas as vacinas são testadas, partida por partida?, esclareceu Caetano. Ela protege tanto contra o vírus tipo O, como A e C. O diretor explicou, no entanto, que a eficácia da vacina depende de fatores como a conservação e a aplicação. ?Se a vacina for congelada, por exemplo, perderá a eficiência.? O Panaftosa também concluiu a caracterização filogenética do vírus detectado em Eldorado (MS). Trata-se de um tipo de vírus comum na região sul-americana, ou seja, não é exótica no Brasil.
Santa Catarina reabre divisa com o Paraná
Lyrian Saiki e Rosângela Oliveira
Santa Catarina, que havia fechado a divisa com o Paraná tão logo foi anunciado o foco de febre aftosa em uma propriedade rural em Eldorado (MS), decidiu rever a decisão. Com isso, a partir de hoje fica liberado o transporte de bovinos, suínos, aves, além da pecuária leiteira, do Paraná para Santa Catarina. Para o diretor-geral da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), Newton Pohl Ribas, trata-se de uma conquista importante. ?Santa Catarina analisou as atitudes que o Paraná vem tomando em relação ao Mato Grosso do Sul, todos os procedimentos técnicos e reconheceu nosso trabalho, deixando de fazer restrições ao Paraná?, afirmou Ribas. A decisão foi anunciada ontem à tarde, durante reunião realizada em Florianópolis (SC), entre técnicos e representantes dos governos dos três estados do Sul.
Segundo o diretor, a atitude do estado vizinho em fechar a divisa foi compreensível. ?Há quase cinco anos, Santa Catarina não vacina mais seu rebanho contra aftosa?, lembrou, acrescentando que agora a responsabilidade do Paraná aumenta, já que se trata de um estado tampão em relação a SC e RS. Além da reabertura, ficou decidido ainda a recuperação do Circuito Pecuário Sul. ?Vamos trabalhar em conjunto, tanto na questão da sanidade, defesa agropecupária, campanhas.?
O secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, sugeriu ontem que o Exército seja mobilizado para atuar na divisa o Mato Grosso do Sul, a fim de evitar que o vírus da febre aftosa se espalhe. Em reunião com representantes dos 161 conselhos municipais e intermunicipais de sanidade agropecuária, ele pediu empenho para preparar a segunda campanha de vacinação de gado do ano, que começa dia 1.º de novembro. ?Se agora que surgem problemas no Mato Grosso do Sul nós formos brincar de fazer defesa agropecuária, o problema ingressará no Paraná?, alertou.
Pessuti disse que um agricultor de Eldorado (MS), onde foi verificado o primeiro foco de aftosa, pediu no fim de semana autorização para entrar no Paraná com um caminhão de soja, o que lhe foi negado. Também foi determinada a interdição de propriedades que receberam 60 cargas de bovinos, 35 de suínos e quatro de ovinos que vieram o Mato Grosso do Sul nos últimos 60 dias. Os animais foram submetidos a coleta de sangue e exames minuciosos.
O Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados (Sindicarnes), que calcula que o prejuízo do Estado com o embargo de 23 países aos produtos brasileiros já chega a US$ 23,6 milhões ao mês – de uma projeção de faturamento de US$ 104,9 milhões/mês. De acordo com o presidente do sindicato, Péricles Salazar, os países que integram o embargo são responsáveis por 6% das importações de aves, 71% da produção bovina e 84% da suína do Paraná.
No rádio, Lula diz que vai mostrar ao mundo a eficácia do governo
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem no programa semanal ?Café com o presidente?, gravado em Roma, que o foco da febre aftosa já foi debelado. ?O Brasil tem por compromisso ético internacional comunicar imediatamente quando há um caso desses. Nós mostramos aos portugueses, mostramos aos governantes que participaram do Encontro Ibero-Americano e vamos mostrar para a Rússia que nós temos um foco. Esse foco já foi debelado. Já matamos todas as reses. Já fizemos as barreiras nas fronteiras que era preciso fazer. Eu acho que nós vamos mostrar ao mundo a eficácia e a ação do governo no sentido de não permitir que um caso isolado de febre aftosa possa prejudicar o comércio de carne do Brasil com o mundo.?
Lula fez esta declaração antes de iniciar viagem para a Rússia. Sobre o encontro que terá com o presidente russo Vladimir Putin, o presidente brasileiro disse: ?Nós temos acordos importantes com a Rússia, sobretudo eu quero concretizar um apoio na área espacial. Os russos têm tecnologia. Têm uma experiência extraordinária na questão espacial. O Brasil está começando em Alcântara e nós pretendemos fazer parcerias para utilizarmos os conhecimentos tecnológicos dos russos?, disse. O presidente afirmou ainda que pretende aproximar a economia russa da economia brasileira. Lula foi homenageado na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) – leia mais na página 12 – e depois almoçou com o presidente italiano Carlo Ciampi. À tarde, o presidente participou de seminário com 350 empresários italianos interessados em investir no Brasil.
Lula disse que o Brasil não mudará de comportamento na economia por causa das eleições de 2006 e avisou que vai enfrentar quem tiver que enfrentar para garantir que o povo brasileiro tenha avanços sociais e conquiste a cidadania. Lula disse que não adotará medidas populistas para iludir a população. Ao fazer um balanço do ?sucesso da economia brasileira?, o presidente disse que os empresários podem investir no Brasil sem medo porque não haverá surpresas. Lula disse que o sucesso de 2004 foi conquistado com ?o sacrifício de 2003? e que o Brasil entrou num ?processo de redução da taxa de juros?.
Sem chances
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acredita que não será possível levantar o embargo russo à carne do Mato Grosso do Sul durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país. Segundo ele, primeiro é preciso resolver o problema dentro do Brasil.