A confiança do consumidor manteve-se praticamente estável em outubro, mas em patamar elevado: o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) registrou este mês o maior nível da série histórica, iniciada em 2005, segundo o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Aloísio Campelo. De acordo com a fundação, o indicador está quebrando recordes há quatro meses, o que configura a sequência mais longa de resultados recordes na história do índice. A leve alta de 0,1% no ICC em outubro contra setembro foi a oitava elevação consecutiva do indicador.
Campelo comentou que não há uma única explicação apenas para a manutenção da confiança do consumidor em patamar elevado. “É uma combinação de fatores. Todas as variáveis estão bem favoráveis em outubro”, disse. Ele observou que a satisfação do brasileiro quanto aos rumos da economia continua aumentando; além disso, o consumidor convive com bons resultados no mercado de trabalho, o que ajuda a melhorar o humor e projetar boas estimativas em relação aos rumos futuros de suas finanças pessoais. “É possível que, pelo fato de o Brasil ter passado pela crise de uma maneira melhor do que os outros emergentes, isso possa ter influenciado a resposta favorável dos consumidores quanto à situação atual da economia”, acrescentou. Há dois meses, a avaliação do consumidor quanto à economia atual é a melhor da série, no âmbito do ICC.
Para o técnico, o bom humor do consumidor é perceptível na avaliação sobre a situação atual financeira da família. “Esta avaliação tinha ‘rateado’ no início do ano, por conta das compras relacionadas ao IPI (quando o consumidor antecipou compras para aproveitar preços baixos em bens duráveis, beneficiados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados). Mas a partir do segundo semestre, a avaliação sobre a situação atual das finanças da família só tem melhorado”, disse. Tanto que as expectativas em outubro para as finanças familiares para os próximos meses foram as melhores desde maio de 2008, de acordo com a FGV. “O consumidor foi às compras e ficou um pouco endividado. Mas a partir do final do primeiro trimestre, ele começou a ajustar suas contas”, explicou.
No entanto, o otimismo do consumidor em outubro não eliminou uma certa cautela nas compras futuras. Isso porque as expectativas de compras de bens duráveis pioraram, de setembro para outubro. A parcela de consumidores entrevistados que estimam um volume maior de compras de duráveis nos próximos meses caiu de 14,9% para 14,2% de setembro para outubro.
Para Campelo, isso mostra que o consumidor ainda promove ajustes em seu orçamento, por conta da antecipação de compras efetuada no final do ano, e no início de 2010, devido ao benefício fiscal do IPI. “O consumidor brasileiro, historicamente, sempre foi pouco endividado, pois não havia muita oferta de crédito no Brasil”, disse, acrescentando que o cenário agora é outro. “Temos muitas opções de financiamento, para imóveis e carros, que são de longo prazo. Nós observamos as vendas de bens duráveis explodirem; então, é razoável supor que, depois disso, haveria uma ‘ressaca'”, disse. “Os consumidores mais avessos ao risco podem estar deixando este período de endividamento passar, antes de comprar mais duráveis”, disse, comentando que não há uma “euforia” nas estimativas de compras duráveis. “Até existe um ímpeto na compra de duráveis, mas não é forte. Eu diria que é mais moderado”, resumiu.
A confiança do consumidor em outubro foi puxada basicamente por famílias de maior poder aquisitivo. Segundo Campelo, o indicador de média móvel trimestral do ICC somente nas famílias com ganhos de até R$ 2.100 mensais caiu 0,1% em outubro. O técnico observou que isso pode ter sido influenciado pelo avanço da inflação no varejo de setembro para outubro, principalmente de alimentos – cuja compra tem grande impacto no orçamento das famílias de menor renda. Ainda segundo a fundação, a projeção de inflação para os próximos 12 meses subiu de 6,0% para 6,1%, de setembro para outubro.