O Brasil pode estar assistindo ao início de uma mudança estrutural no mercado de crédito. Apesar da alta do juro básico da economia (Selic) entre abril e junho, os empréstimos ao consumidor ficaram mais baratos. Enquanto a Selic saiu de 8,75% para 10,75% ao ano nesse intervalo, a taxa média cobrada das pessoas físicas caiu de 41,1% para 39,9% ao ano, menor nível desde que o Banco Central (BC) começou a fazer a pesquisa, em 1994.
Executivos de bancos e analistas atribuem o movimento aparentemente contraditório a um grupo de seis fatores, entre eles o acirramento da competição. “Há uma concorrência feroz”, diz o diretor do Departamento de Empréstimos e Financiamentos do Bradesco, Otávio de Lazari Júnior. “É uma concorrência não apenas entre as instituições financeiras, mas também entre os produtos”, emenda o vice-presidente executivo de Varejo do Santander, José Paiva Ferreira.
Quando fala de produtos, Paiva cita outra das razões que têm provocado a queda das taxas: uma alteração no chamado mix das operações de financiamento. As duas linhas de crédito com maior peso no segmento de pessoas físicas – automóveis e consignado – estão entre as mais baratas. Em agosto, por exemplo, o juro médio do crédito consignado era de 26,4% ao ano. À medida que essas linhas ganham espaço, o juro médio cai.
Há também fatores conjunturais, como a melhora dos índices de inadimplência e a ascensão social, estratégicos, como a busca dos bancos para garantir hoje bons resultados no futuro, e comportamentais, que os executivos definem como educação financeira. “Há uma mudança silenciosa ocorrendo no País”, afirma o diretor de crédito do Banco do Brasil (BB), Walter Malieni Júnior. “A educação financeira está avançando. Clientes que antes se financiavam no cartão de crédito (linha mais cara do mercado) agora fazem empréstimo consignado.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.