Bancos e varejistas vão encontrar canais alternativos para driblar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1,5% para 3% ao ano no crédito para pessoa física, anunciado ontem à noite pelo governo. Especialistas ouvidos pela Agência Estado dizem que as compras parceladas sem juros no cartão de crédito, que não pagam IOF, devem crescer nos próximos meses.

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Além disso, ao invés de emprestar para o consumidor, os bancos podem reforçar acordos com redes de varejo, liberando o crédito para os lojistas para que estes financiem as compras diretamente a seus clientes, escapando também do IOF maior.

Os analistas da gestora Barclays Capital, Roberto Attuch e Fabio Zagatti, destacam que o aumento do IOF abre canais alternativos para o consumidor se financiar sem pagar uma taxa maior. Em relatório distribuído a clientes, eles destacam que o parcelamento sem juros no cartão é um desses principais canais.

Os analistas também estão céticos quanto a eficácia da medida para frear o crédito no sistema financeiro, que cresceu 21% nos 12 meses encerrados em fevereiro. “Temos a percepção de que um aumento extra de 1,5 ponto porcentual no custo do crédito ao consumo não parece ter um impacto significativo em reduzir a originação desse crédito”, destacam no relatório.

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O analista de bancos da Planner, Ricardo Tadeu Martins, avalia que os bancos menores, que dependem mais do crédito ao consumo, podem ser mais afetados pelas medidas que os grandes. O Daycoval, por exemplo, tem 33% da carteira em crédito ao consumo, segundo balanço do quarto trimestre de 2011. Para Martins, o governo deveria fazer reformas estruturais que ataquem as causas da inflação, e não as consequências do processo inflacionário.

Na média, o crédito ao consumo responde por 45% das carteiras dos bancos brasileiros, levando em contas dados do quarto trimestre de 2010. Entre os grandes bancos, o Santander pode ser o mais influenciado pela alta do tributo, pois tem a maior participação do mercado no crédito ao consumo, que responde por 46% de sua carteira de crédito, segundo levantamento feito pelo Barclays Capital. O Itaú tem 45%, Bradesco tem 42% e o Banco do Brasil (BB) tem a menor fatia, de 32%.

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A medida anunciada ontem deve ter impacto negativo principalmente em linhas como crédito consignado e financiamento de veículos, avaliam os analistas. A razão é que são os segmentos com menor taxa de juros quando comparado a outras linhas, por isso são mais sensíveis ao aumento do IOF. Entre os grandes bancos, o Banco do Brasil é o que tem maior participação do consignado dentro da carteira de crédito ao consumo, com 40%, ante 15% no Bradesco, 13% no Santander e apenas 6% no Itaú. Nos automóveis, o Itaú Unibanco é o mais forte, com 45% de sua carteira focada no segmento, ante 34% do Bradesco e Santander e 24% do BB.