Competição maior por emprego

Rio

– O declínio da renda real provocada pelo repique da inflação nos últimos meses está empurrando para o mercado de trabalho integrantes das famílias que, antes, podiam se dar ao luxo de não trabalhar. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os segmentos que mais crescem na população economicamente ativa (que designa quem trabalha ou está buscando ocupação) são as mulheres, os jovens e os maiores de 50 anos. Entre abril de 2002 e o mesmo mês deste ano, de 1,054 milhão de pessoas que entraram no mercado de trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do País (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre), 654 mil eram mulheres; 88 mil tinham de 15 a 24 anos e 368 mil, mais de 50 anos.

Na média do primeiro quadrimestre deste ano, 455 mil pessoas que nunca trabalharam antes decidiram procurar ocupação: 18% a mais do que no mesmo período de 2002. É o caso do estudante Alan Nascimento de Castro, 18 anos, aluno da segunda série do ensino médio, que este ano se matriculou na turma da noite para buscar um trabalho durante o dia.

“Minha irmã Ieda, de 29 anos, era a única fonte de renda da casa, mas ela foi demitida. Agora, eu e minha irmã mais nova, Rafaela, que tem 19 anos e também estuda, estamos procurando trabalho”, diz Alan. “Tenho muito medo de que atrapalhe no colégio, mas não tenho opção”, lamenta.

Alan e sua irmã Rafaela fazem parte de uma geração sem emprego. Em abril, a taxa de desocupação dos adolescentes de 15 a 17 anos era o triplo (35,2%) e a dos jovens de 18 a 24 anos (24%), o dobro do índice médio de desemprego (12,4%) nas seis regiões metropolitanas do País.

Em fevereiro passado, o economista Gustavo Gonzaga, da PUC-Rio, já chamava a atenção para o fenômeno de filhos e esposas em busca de emprego. Movimento que se acentuou a partir do segundo bimestre. Os dados também mereceram destaque para os técnicos do IBGE. Enquanto a taxa de atividade (total da população economicamente ativa dividida pela população com idade para trabalhar) entre abril de 2002 e o mesmo mês deste ano cresceu 3,28%, entre as mulheres, ela cresceu 4,88%; entre os jovens de 15 a 17 anos, 3,89%, e entre os maiores de 50 anos, 6,3%.

A estudante de direito Vera Lúcia de Moraes, de 34 anos, engrossa o time de mulheres em busca de uma vaga. Vera trabalhava como auxiliar de cobrança até novembro de 2001. Este ano, ela começou a procurar emprego mais intensamente porque sua mãe, chefe da família, foi demitida.

Os jovens, muitas vezes, disputam vagas com chefes de família. Ernam de Paula Cyrino, 44 anos e três filhos, trabalhava como gerente numa firma de engenharia. Há sete meses, foi demitido. Na última entrevista de emprego, Cyrino, que ganhava R$ 1.556, teve uma proposta de R$ 250.

“As empresas preferem contratar jovens sem experiência para pagar pouco. Meu seguro-desemprego já acabou e, daqui a pouco, serei preso porque não estou conseguindo pagar a pensão dos meus filhos.”

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