São Paulo – Passada a explosão do dólar, que em 2002 encheu de vermelho a maior parte dos balanços, as empresas exibem um fôlego revigorado neste início de ano. Uma pesquisa da consultoria Economática mostra que o lucro líquido de um conjunto de 126 companhias não-financeiras que já publicaram balanço, excetuando a Petrobras, chegou a R$ 5,736 bilhões no primeiro trimestre – mais de cinco vezes o resultado financeiro de 204 empresas de capital aberto em todo 2002. Em relação ao primeiro trimestre de 2002, o lucro é 89,7% maior.
A melhora é visível nos principais indicadores. Apesar da retração no mercado interno, as empresas conseguiram expandir em 4,4% sua receita, que alcançou R$ 62,469 bilhões ao fim do primeiro trimestre. Assim, o lucro operacional próprio (diferença entre vendas e despesas de produção) aumentou 33,1%. Passou de R$ 7,743 bilhões para R$ 10,309 bilhões, em valores atualizados pelo IGP-DI. Do lado das despesas, o desembolso com empréstimos bancários caiu 19,9%, para R$ 6 bilhões.
“Todos os dados indicam uma recuperação vigorosa, até surpreendente”, afirma o presidente da Economática, Fernando Exel.
Há várias explicações para esses resultados, e elas podem variar de setor para setor. No caso dos grandes exportadores, por exemplo, pesou o aumento de preços de produtos e commodities no mercado internacional, que alavancou as receitas em reais. O lucro líquido de 22 empresas exportadoras quintuplicou no primeiro trimestre, chegando a R$ 3 bilhões. Só a Cosipa aumentou em 60% as vendas de placas de aço no exterior. Um traço comum a todos os balanços, porém, foi o esforço para reduzir o fardo das dívidas e, neste sentido, a melhor notícia para os empresários foi a valorização de 5% acumulada pelo real até março.
Quando o real fica mais forte, diminuiem proporcionalmente os gastos com o pagamento de dívidas em dólar. A mudança de humor no mercado financeiro operou transformações importantes em alguns balanços. A Eletropaulo, controlada pela americana AES, festejou um lucro de R$ 14,2 milhões no primeiro trimestre. Pode parecer um resultado modesto para a maior distribuidora de energia do País, mas apagou a lembrança amarga do prejuízo de R$ 14,4 milhões de 2002.
Se a conjuntura ajudou, as empresas também trataram de fazer novos ajustes internos. Houve uma corrida para abater dívidas no exterior, que representam 70% do endividamento das não-financeiras. Em alguns casos, esse movimento foi espontâneo e impulsionado pelos ganhos de receita; em outros, por pressão do próprio credor, que no fim de 2002 se assustava com a iminente vitória de um candidato da oposição à Presidência. Assim, o resultado foi uma queda de 0,5% da dívida financeira total em reais, de R$ 128,934 bilhões para R$ 128,311 bilhões.
“Diante do pânico, as empresas fizeram das tripas coração para abater seus débitos. Mas ficaram menos expostas em dólar”, diz Exel.