Companhia Bematech ainda está com fome

Fornecedora de soluções em tecnologia para o comércio, a companhia paranaense Bematech espera um segundo semestre bastante positivo, alavancado por fatores como o crescimento da renda das classes C e D, a unificação das máquinas de cartões de crédito e a própria sazonalidade do mercado, que costuma fechar mais contratos com a empresa nos últimos seis meses de cada ano. Grande compradora de companhias menores da área há dois anos, a empresa deve voltar às compras em breve, e pretende se consolidar, cada vez mais, na BM&FBovespa, como uma opção defensiva para investidores.

De acordo com a diretora de Relações com Investidores da Bematech, Mônica Molina, uma nova fase de aquisições deve vir pelo menos até 2012. “Está dentro do nosso planejamento estratégico. É uma das linhas de receita para crescimento”, revela, dizendo que a empresa fez uma pausa nas compras no ano passado, mas este ano voltou a ter um grupo focado em analisar possíveis alvos. “Temos caixa pra isso, e espaço no mercado de crédito para tomar dívidas e financiar esse próximo passo”, completa.

A segurança para esse tipo de planejamento veio de bons resultados seguidos, atingidos depois que a crise internacional afetou alguns resultados da companhia. “O primeiro trimestre de 2009 foi o pior da vida da empresa”, avalia Molina. Ela explica que a crise, iniciada na maioria dos setores por volta de setembro, chegou mais tarde para eles porque grande parte de seu mercado – pequenos e médios varejistas – costuma ter os últimos trimestres do ano como o período mais forte de vendas.

“É uma época em que o varejo é muito mais demandante em recursos e investimentos, para se prepararem para o Natal”, diz a executiva. Tanto que o resultado do último trimestre de 2008 foi recorde na época. Porém, no início do ano passado, os impactos da crise chegaram ao varejo, que por sua vez provocou uma intensa desaceleração nos pedidos à Bematech. O que decaiu foi principalmente o faturamento originado pela venda de equipamentos de automação comercial, que representam cerca de dois terços das vendas da empresa.

Retomada

Mas a crise acabou não pegando em cheio o varejo, e a Bematech foi retomando o volume de vendas, até chegar a um novo recorde, nos últimos três meses do ano passado. “No segundo semestre, recuperamos o primeiro semestre ruim”, observa Molina. Em seguida, a empresa embalou e conseguiu repetir o desempenho do final de 2009, passando por um primeiro trimestre que ela classifica como “positivamente surpreendente”: as receitas cresceram 17% e as vendas de equipamentos aumentaram 22% em relação ao mesmo período do ano passado.

Divulgação
Planta industrial da empresa que começou fabricando pequenas impressoras: retorno gradativo às vendas depois da crise que atingiu o varejo.

O bom resultado das vendas no início do ano também refletiu no Ebitda (sigla para o inglês de lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). A margem passou de 5,7%, nos primeiros três meses de 2009, para 19,7% no mesmo período deste ano. Mas Molina atribui a mudança também a uma série de iniciativas tomadas desde o ano passado, como rever o modelo de distribuição e o mix de produtos, e trabalhar a integração das oito empresas adquiridas nos quatro anos anteriores. “Aproveitamos um momento de vendas menos boas para fazermos a tarefa de casa”, conta.

Unificação

Um dos pontos que anima os executivos da Bematech para o segundo semestre são as recentes mudanças no setor de cartões de crédito e débito, como a recente unificação das máquinas no comércio, que levou a uma possibilidade mais próxima de queb,ra do duopólio atual do mercado, dominado pelas redes Cielo e Redecard. Agora, por exemplo, os comerciantes poderão obter as máquinas através de fornecedores independentes, o que abriu à companhia uma nova linha de negócio, segundo Molina: ser provedora de soluções de transferência eletrônica de fundos. “A quebra é importante para nós, que temos um canal de vendas mais ativo”, avalia.

Além dessa solução, a Bematech também está focando em criar softwares mais adequados a necessidades específicas de determinados nichos do mercado, como postos de gasolina, hoteis, restaurantes e farmácias. Outros produtos que a executiva prevê que devem ser bastante procurados são os equipamentos all-in-one, que reúnem, em uma só máquina, o computador e o monitor sensível ao toque, que é utilizado como teclado.

Centro de treinamento para capacitar mão de obra

O possível apagão de mão de obra qualificada que pode afetar alguns setores da economia nacional – no de tecnologia, a previsão é de 100 mil postos de trabalho sobrando nos próximos anos – não assusta a Bematech, segundo a diretora de Relações com Investidores da empresa, Mônica Molina. “Como fizemos aquisições nos últimos anos, essas empresas trouxeram pessoas. Tivemos até uma sobreposição”, afirma.

Ela lembra, ainda, que a companhia, que tem cerca de 1,5 mil funcionários, também mantém centros de treinamento para capacitar sua rede de parceiros de aproximadamente 3 mil revendedoras e 500 assistências técnicas. Os locais acabam sendo outras fontes de talentos. Nem mesmo a possibilidade de perder colaboradores-chave para outras empresas preocupa Molina. “Somos líderes em em automação comercial. Temos conseguido reter muito mais do que perder para os concorrentes”, diz. Mesmo assim, ela afirma que a companhia faz pesquisas constantes no mercado, para saber o quanto está atrativa aos profissionais. (HM)

Resultados levam tranquilidade aos investidores

Os últimos resultados da Bematech vêm refletindo bem na BM&FBovespa, onde são negociadas suas ações. Segundo a executiva da empresa, Mônica Molina, embora os papéis da companhia pareçam ter remunerado pouco em 2010 (entre 6% e 7% no ano), os índices estão bem acima do Ibovespa, que vem oscilando entre -10% e -11% no mesmo período. “Sobrevalorizar o Ibovespa em mais de 15% é um presente aos acionistas, que ficam em uma situação bastante confortável”, ressalta.

Para Molina, valorizações como a que a Bematech vem apresentando no ano são típicas de ações consideradas “defensivas”, que oferecem menor risco. Empresas de energia elétrica, que normalmente têm receitas previsíveis e pouca volatilidade são exemplo desse tipo de papel. Essa característica, segundo a executiva, é uma novidade para a Bematech. “Neste ano, chegamos em um ponto em que o mercado criou uma referência de preços, está entendendo como os resultados se comportam”, explica. Além disso, também ajudam os fatos da empresa ter grande parte de sua receita no mercado domestico e foco no pequeno e médio varejo, que costumam estar entre os últimos a sofrer em momentos de crise, já que não precisam de grandes investimentos. (HM)