Por unanimidade, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) aprovou hoje requerimento convidando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para participar de uma audiência pública destinada a tratar da substituição de Roger Agnelli no comando da Vale. Autor do pedido, o senador Cyro Miranda (PSDB-GO) aponta como motivo do convite a Mantega “a noticiada interferência política do governo federal na empresa Vale”. A audiência ainda não tem data marcada.
O requerimento complementa pedido feito anteriormente pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que também solicitava presença do ministro da Fazenda para “prestar informações acerca da economia brasileira e do cenário para 2011 esperado pelo governo”. No pedido, o senador alega a necessidade da equipe econômica do governo “enfrentar e solucionar algumas questões que podem comprometer o crescimento em ritmo acelerado do País, “tanto em relação ao passado como em comparação às maiores economias desenvolvidas”.
Debate
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado debateu amplamente, hoje, a mudança no comando da Vale. O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) criticou a escolha do executivo Murilo Ferreira para suceder Roger Agnelli, que em julho completaria dez anos na presidência da companhia. “O nome do escolhido nem constava da lista dos que estavam sendo cogitados, foi um nome indicado pelos fundos de pensão. Nunca vi um ministro de Estado demitir um presidente de uma empresa, estatizaram a Vale”, protestou o tucano.
O petista Lindbergh Farias (RJ) saiu em defesa do governo, ressaltando que a escolha de Ferreira foi uma “decisão de acionistas”. Ele acusou a oposição de politizar excessivamente o episódio, lançando a campanha “fica Agnelli”. Lindbergh defendeu que a Vale assuma uma “visão nacionalista mais forte”, já que a mineradora exporta minério bruto, quando poderia agregar valor ao produto, gerando mais empregos no País. “Há uma torcida nacional para que a empresa assuma uma nova postura”, sustentou.
O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) expressou sua “discordância completa” na intromissão do governo na mineradora. O fluminense criticou, em especial, a pressão do governo para que a Vale investisse em siderurgia, de modo a concorrer com os próprios clientes. “As siderúrgicas estão com capacidade ociosa, é uma falta de bom senso. A Vale é responsável pelos grandes resultados da política comercial do Brasil no exterior. O governo não pode fazer dela uma empresa pública”, protestou.
Por fim, o senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE), ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ponderou que esse debate suscita uma discussão mais ampla sobre a necessidade de um novo marco regulatório para o setor de mineração. “Os royalties estão alinhados ao que se pratica no mercado internacional, os Estados que são províncias minerais estão sendo devidamente compensados pela exaustão dos recursos?”, questionou.