O comércio paranaense vendeu mais, mas empregou menos no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. É o que revela o levantamento divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, regional Paraná (Dieese-PR), em parceria com o Sindicato dos Empregados do Comércio de Curitiba e Região.
No Paraná, de janeiro a junho o nível de emprego cresceu 1,70%, representando saldo (admissões menos demissões) positivo de 6.888 vagas – a maior parte delas (51,6%) no interior do Estado. Apesar do crescimento, o volume de empregos foi quase 43% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando houve a geração de 12.076 postos de trabalho.
?O comércio do Paraná continua gerando empregos, porém em ritmo inferior ao do ano passado?, apontou o economista Sandro Silva, do Dieese-PR. E não foi só no Paraná que o ritmo foi reduzido. Em nível nacional, o saldo de empregos no comércio caiu de 133 mil no primeiro semestre do ano passado para 71,7 mil este ano – ou seja, queda de 46,13%.
A desaceleração da economia, lembrou Sandro Silva, iniciou no final do ano passado, com a valorização do real frente ao dólar e o aumento da taxa de juros. No caso específico do Paraná, a crise na agricultura – por conta da quebra de safra e da redução de preço de alguns produtos agrícolas – também afetou a geração de emprego e renda. Em todo o Estado, o número estimado de trabalhadores com carteira assinada no comércio é de 412.039, representando 7,07% do contingente total do comércio em nível nacional.
Emprego temporário
Apesar do primeiro semestre ?fraco? em termos de geração de empregos, o economista do Dieese-PR acredita em um segundo semestre de recuperação, especialmente por conta das vendas do comércio no período que antecede o Natal. No ano passado, entre setembro e novembro, o comércio contratou cerca de 9,5 mil temporários no Paraná. Para este ano, a previsão é de 10,5 mil novas vagas – volume maior do que o de 2005, mas menor do que o de 2004, quando foram gerados 11,5 mil empregos.
De acordo com Sandro Silva, a contratação de temporários se concentra no mês de novembro. ?Há muita gente qualificada, com experiência e desempregada, que não precisa de muito tempo de treinamento?, explicou.
Vendas aumentaram
Ao contrário do nível de emprego, as vendas do comércio no primeiro semestre deste ano apresentaram desempenho melhor do que no mesmo período do ano passado. Enquanto de janeiro a junho de 2005, o volume de vendas cresceu 0,46% no Paraná, este ano o aumento foi de 1,32% – bem abaixo, porém, do desempenho nacional, que registrou aumento de 5,68%.
Entre os setores que ampliaram o volume de vendas no Estado, destaque para ?equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação? (crescimento de 48,72%), ?outros artigos de uso pessoal e doméstico? (14,12%), ?móveis e eletrodomésticos? (10,50%), ?artigos farmacêuticos, médicos, etc.? (7,09%), ?alimentos, bebidas e fumo? (2,45%), ?hiper e supermercados? (2,10%) e ?tecidos, vestuários e calçados? (0,85%). Na outra ponta, ?combustíveis e lubrificantes? tiveram queda de 16,68% no volume de vendas e ?livros, jornais, revistas e papelaria?, queda de 3,19%.
Rotatividade de trabalhadores preocupa
A alta rotatividade de trabalhadores no comércio do Paraná e a redução da massa salarial vêm preocupando o setor. De acordo com Ariosvaldo Rocha, presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio de Curitiba e Região, 39,7% dos demitidos no primeiro semestre deste ano tinham mais de um ano de tempo de serviço. Para ele, o comércio vem demitindo quem está trabalhando há mais tempo e tem salário maior e contratando funcionários com salários menores.
Conforme levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, o salário médio dos demitidos no Paraná no primeiro semestre era R$ 530,39, enquanto o dos admitidos R$ 491,87; ou seja, diferença de 7%. ?Está havendo uma substituição de trabalhadores experientes, que ganham mais, por outros com salário menor?, analisou.
Segundo Rocha, há setores específicos, porém, que não adotam esta política. É o caso do comércio farmacêutico e de concessionárias de veículos. ?Estas empresas têm um custo elevado para treinar seus funcionários e por isso quase não demitem.?
Apesar de todos os impasses, o salário no comércio vem aumentando. O piso salarial no primeiro semestre deste ano era R$ 491,97, contra R$ 448,41 no mesmo período do ano passado – ou seja, aumento de 9,70%.