Comércio entre Brasil e Cuba esbarra na falta de crédito

Na primeira vez em que um ministro cubano visitou a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), sobraram intenções e cordialidades, mas faltaram resultados concretos desse encontro histórico protagonizado nesta terça-feira (11) pelo titular do Ministério de Comércio Exterior de Cuba, Raúl de La Nuez.

Com 11 milhões de habitantes e um PIB que cresceu 12,5% em 2006, para US$ 44 bilhões, e que deve registrar uma alta entre 7% e 8% neste ano, Cuba é a maior ilha do Caribe e um mercado bastante promissor. A corrente comercial entre os países saltou de US$ 100 milhões em 2003 para US$ 380 milhões no ano passado – com larga vantagem para o Brasil, cujas exportações somaram cerca de US$ 350 milhões.

Porém, tantos números positivos e boa vontade entre as partes esbarram no embargo norte-americano ao país, que já tem 45 anos e impede que o governo e as empresas cubanos obtenham crédito junto a bancos e ao mercado de capitais.

"Esse é um dos assuntos que viemos tratar aqui, em conversas com empresários e bancos. Vamos ver o que podemos fazer, porque as empresas cubanas requerem financiamento. Temos conseguido algumas soluções financeiras para comprar alimentos no Brasil, mas é nossa intenção conseguir financiamentos também para adquirir bens industriais e outros bens", disse Raúl de La Nuez. Desde 1999, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem uma linha que financia para Cuba a compra de alimentos brasileiros.

Para o ministro cubano, o Brasil tem muito potencial para elevar a quantidade de maquinas e alimentos que exporta ao país. Dos US$ 2,6 bilhões que Cuba gastou na aquisição de máquinas em 2006 apenas 5% foram gastos no Brasil. No caso de alimentos, dos US$ 1,3 bilhão em importações, 13% tinham origem brasileira.

"Temos muito interesse em comprar máquinas para modernizar a indústria de cana, temos investido muito em silos para armazenar grãos e queremos substituir a frota de carros, caminhões e ônibus", disse o ministro. Ele disse também que Cuba gostaria que a Petrobras investisse na exploração de petróleo em águas profundas, no Golfo do México. Porém, ele descartou qualquer possibilidade de investimentos para a produção de etanol.

"Cuba não está seguindo uma política para desenvolver a produção de etanol como combustível. Temos uma política contrária ao uso de alimentos para a produção de combustível. Produzimos etanol com outros fins, na indústria médico-farmacêutica e alimentícia. Nosso interesse no momento é modernizar a indústria açucareira para torná-la mais eficiente, mas não temos um programa alcooleiro como o Brasil, que tem condições diferentes das de Cuba", declarou. O ministro disse ainda que as únicas áreas em que Cuba não aceita investimento estrangeiro são educação, saúde e defesa.

O diretor-adjunto do departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Thomas Zanotto, admitiu que o crédito para aquisição de bens industriais e de consumo é um grande obstáculo para o aprofundamento das relações comerciais entre Cuba e o Brasil. "Isso não é algo que possa ter uma solução de curto prazo, pois é uma questão de política internacional de alto nível", reconheceu.

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