Comércio agrícola mantém o Brasil na frente

Foto: Arquivo/O Estado
Produção agrícola continua sendo carro-chefe do Brasil.

O Brasil será o País que apresentará o maior crescimento em produção e exportações no setor agrícola no mundo até 2020. A estimativa é da União Européia (UE), que já começa a contabilizar o que significaria a longo prazo a abertura de seus mercados agrícolas diante de um eventual acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo cálculos feitos por Bruxelas, a liberalização e uma reforma interna do sistema de subsídios geraria uma redução de 25% no número de fazendas na Europa nos próximos 15 anos.

 As projeções fazem parte de um levantamento de mais de 250 páginas elaborado por economistas da UE sobre como seria a agricultura européia em 2020 e quais desafios externos e internos sofreria. O cenário não é nada positivo para os europeus, segundo suas próprias avaliações. ?Está claro que temos que mudar a forma que atuamos no setor rural. Estamos perdendo competitividade há anos e a conclusão do levantamento mostra que não podemos seguir assim?, afirmou um funcionário de alto escalão da UE e que participou da elaboração do estudo.

A Política Agrícola Comum (PAC) da Europa foi criada nos anos 50s e 60s com o objetivo de reconstruir a capacidade do continente de produzir o suficiente para não depender de importações para se alimentar. Mas, depois de 40 anos de um apoio milionário, o mecanismo acabou gerando graves distorções. A Europa, por exemplo, se transformou em um dos maiores exportações de açúcar do mundo e a produção de vinho se expandiu tanto que parte do produto hoje é usado como etanol para alimentar máquinas industriais.

De acordo com o estudo, três fatores devem transformar radicalmente o cenário europeu até 2020. A pressão por cortes de subsídios, eventuais reduções de barreiras à importação e a competitividade da produção brasileira em vários setores. Segundo o estudo dos europeus, o crescimento nas exportações brasileiras não ocorrerá graças aos mercados ricos, mas principalmente por causa dos mercados emergentes, como Índia e China. Nos últimos 30 anos, um bilhão de pessoas foram somadas à população mundial, a maioria delas em países em desenvolvimento. A projeção dos europeus estima que, nos próximos 15 anos, essa população vai ter renda maior, incrementando seu consumo.

As exportações de soja, açúcar, frango e carne bovina do Brasil deverão aumentar de forma rápida. Já no mercado europeu, a falta de competitividade levará a uma queda de 4% por ano no número de agricultores até 2020. O resultado será o fim de um quarto de todas as fazendas hoje existentes na Europa.

Reforma

Para evitar esse cenário, os europeus afirmam que estão dispostos a continuar reformando sua agricultura. Ontem, em Bruxelas, os 27 ministros de Agricultura do bloco europeu se reuniram para começar um debate sobre a proposta de corte de subsídios no setor de legumes e frutas. O apoio a esse setor corresponde a 3,1% do orçamento agrícola do bloco e chega a US$ 2 bilhões por ano.

A idéia é de que os subsídios seriam dados sem uma vinculação com o total da produção de cada fazendeiro, para evitar que certas empresas aumentem sua produção apenas para receber mais recursos. Esse fenômeno é o que acabou gerando nos últimos anos um excedente na produção, afetando os mercados globais. O projeto, que deve entrar em vigor em 2008, afetará principalmente a Espanha, Portugal, Grécia e Itália, que hoje devem se queixar da proposta de corte de ajuda. Nesses países, o setor de frutas e legumes representa 25% da renda agrícola. Pela proposta de reforma, cada produtor seria obrigado a gastar 20% do que recebe em subsídios para preservar o meio ambiente. Além disso, os subsídios à exportação seriam eliminados.

Para completar, a Comissão Européia quer acabar com o mecanismo que permite que um produtor pode ser 100% reembolsado se um produto seu não é vendido no supermercado. Pela proposta, receberia apenas 50% do valor do produto. Os produtores somente poderiam receber na íntegra o dinheiro de sua mercadoria se distribuíssem as frutas e legumes em escolas e instituições públicas para ajudar a população a comer melhor. A proposta também tem como alvo os grandes supermercados, que controlam entre 70% e 90% da venda de alimentos na Inglaterra, França, Alemanha e Holanda.

Lula confiante com a retomada das negociações

Brasília (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no seu retorno ao programa de rádio Café com o presidente, que ficou fora do ar por sete meses, devido a legislação eleitoral, disse estar mais otimista com a volta das discussões de comércio dentro da Rodada Doha, ?porque há uma vontade política de que essas coisas aconteçam. Todo mundo sabe que se não acontecer um acordo sobre o comércio agora, a OMC (Organização Mundial do Comércio) vai perder credibilidade, ou seja, as pessoas vão se perguntar: por que ela existe??

Lula acredita que a Rodada Doha vá se fechar até abril e que ele mesmo vai telefonar, ?por estes dias?, para os presidentes dos países envolvidos em negociações. Ele disse que a rodada ?não é mais um problema dos negociadores, porque eu disse ao Tony Blair (premiê britânico) que, em algum momento, nós vamos ter que ter cinco minutos de estadistas dentro de nós e vamos tomar uma decisão. Uma decisão que possa significar apontar para os países mais pobres do mundo uma esperança de que o século 21 vai dar a eles a oportunidade de se desenvolver. O País, além de apresentar essas propostas, tem no programa do biodiesel e no do álcool grandes programas que podem ajudar os países pobres a se desenvolverem?.

De acordo com Lula, ?não adianta os países ricos acharem que vão ajudar os países pobres dando um pouquinho de dinheiro. Não, é muito melhor a gente investir em projetos de desenvolvimento nos países mais pobres. Eu participei de uma reunião e lá fiz questão de dizer que a decisão agora é eminentemente política, não mais econômica. É uma decisão em que os presidentes e os primeiros-ministros, as pessoas que têm responsabilidade de tomar a decisão, vão ter que dizer se querem ou não querem?.

PAC

O presidente Lula disse, também, que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ?é um compromisso do governo brasileiro com as principais obras de infra-estrutura do País nos próximos quatro anos. No PAC, o que é importante? É que nós definimos investir quase R$ 504 bilhões. Nós decidimos investir em habitação, saneamento básico, que nunca foram investidos no Brasil. Ao mesmo tempo, nós queremos mostrar seriedade, porque criamos conselho gestor, que vai dirigir esse programa de investimento para que não se perca na demanda diária da política brasileira?.

Lula salientou ainda que o PAC tem três coisas importantes. ?Uma são mudanças em alguns aspectos na área econômica que vão permitir mais flexibilidade para investimentos, que passa pela desoneração. Outra coisa importante são mudanças legislativas para tentar destravar o País de coisas que, às vezes, demoram meses para acontecer. A outra é a decisão de investimento em infra-estrutura, ou seja, o que nós temos de prioridade na parte de gasoduto, na parte de energia elétrica, na parte de rodovias, na parte de portos e aeroportos, na parte de hidrovias.?

Segundo o presidente, o plano de crescimento ?é extremamente sério, extremamente responsável. Nós não inventamos obras, ou seja, as obras que estamos colocando como prioridade são demandas históricas deste País. Portanto, eu estou otimista?.

O programa é retransmitido pela rede de rádio da Radiobrás, liderada pela Nacional de Brasília.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo