Rio – O fraco resultado da economia no primeiro semestre e a relutância do governo em qualificar como recessão a queda, por dois trimestres consecutivos, do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do País) têm como pano de fundo os sinais trocados que balizaram o desempenho econômico do Brasil este ano.

Se, por um lado, as exportações e a produção agropecuária tiveram crescimentos recordes; na outra ponta o consumo das famílias e a indústria voltada para o mercado doméstico registram perdas históricas. Foi o preço da política de juros altos, vitoriosa no combate à inflação e no resgate da credibilidade dos mercados financeiros.

Nos seis primeiros meses do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o PIB ficou praticamente estagnado: alta de só 0,3%. A agropecuária cresceu 5,7% e as exportações deram um salto de 25,3%. Mas o consumo das famílias, há dois anos em queda, recuou 4,7%, no pior desempenho da série do IBGE, iniciada há 11 anos.

Segundo o economista Nelson Barrizzelli, da USP, a deterioração do consumo familiar apenas se agravou no primeiro semestre. Ele lembra que a renda do brasileiro está em queda há pelo menos quatro anos, período no qual o País enfrentou três bolhas inflacionárias, em 1999, 2001 e 2002. O baixo crescimento, com aumento do desemprego, piorou a situação.

A costureira Elizabeth Ferreira Reis sente no bolso a queda na renda da família. Sem emprego há três anos, ela cortou o consumo de itens supérfluos e, desde o início de 2003, voltou a procurar trabalho. Ela conta que, numa família de cinco pessoas ? Elizabeth, o marido, o irmão, a cunhada e o sobrinho de 12 anos ? só um adulto está empregado.

? Vivemos com o salário do meu marido. Meu irmão e minha cunhada ficaram desempregados. Estou procurando trabalho como costureira, mas aceito o que aparecer ? conta Elizabeth, que semana passada candidatou-se a uma vaga na Central de Apoio ao Trabalhador.

No lado pujante da economia, o Grupo MPE vai faturar R$ 200 milhões em 2003, cerca de 50% a mais que no ano passado, e já faz planos para duplicar suas receitas em 2004. No início dos anos 90, a empresa decidiu crescer na agropecuária. Hoje produz por ano 1,250 milhão de sacas de soja e 11 mil toneladas de algodão, dos quais mais de 80% destinam-se ao mercado externo. Exporta também camarão, tilápia e suco concentrado de frutas, além de carne suína.

Entusiasmado com a expansão do agronegócio, o presidente do grupo, Renato Abreu, anuncia investimentos, na contramão dos demais empresários. No primeiro semestre, a formação bruta de capital despencou 5,4%. Já o Grupo MPE inaugura ainda este ano, em parceria com empresários portugueses, sua segunda fábrica de sucos, a Brassumo.

? O setor agrícola é hoje o grande negócio do Brasil. Apenas este ano, o saldo comercial será de US$ 24 bilhões.

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