economia

Com salário reduzido, pedagoga só paga prestação vencida da sua casa

Nos últimos meses, a pedagoga Jocilene de Andrade Nascimento, de 50 anos, casada e com uma filha, está atrasando o pagamento da prestação da casa própria. “Vence o mês e eu pago a prestação do mês anterior”, conta. Com renda na faixa de R$ 2 mil, ela está com dificuldade para pagar em dia a parcela de R$ 670 do imóvel, que é um terço da sua renda. Avaliado na época da compra, em 2010, em R$ 130 mil, Jocilene financiou a casa em 30 anos.

A dificuldade de honrar a prestação no prazo foi agravada pela crise. Jocilene explica que teve uma perda de salário porque mudou de cargo na creche onde trabalha. Mas o quadro piorou quando o marido, que presta serviço como autônomo em eventos, viu o volume de trabalho diminuir.

Além da prestação da casa própria, Jocilene também está pagando com atraso as contas de serviços básicos, como água, luz, telefone, por exemplo. Ela explica que faz uma espécie de rodízio no pagamento das contas atrasadas e se começa receber muitas ligações de cobrança de uma determinada empresa acaba dando prioridade para o pagamento dessa conta. Mas a sua prioridade número um é o pagamento da prestação da casa própria: “Nunca deixo passar mais de duas prestações em atraso”, afirma.

Água e luz

A pedagoga não está sozinha entre os brasileiros que estão com o bolso apertado. Pesquisa do Instituto Geoc mostra com números como o consumidor vem se comportando para quitar os compromissos. Neste ano, depois do financiamento da casa própria e dos consórcios, a parcela de brasileiros que não consegue honrar os pagamentos em dia que mais cresceu foi nas contas de luz, água, telefone, celular, TV a cabo e internet. “As pessoas estão perdendo o medo de atrasar a quitação de serviços básicos por incapacidade de pagamento”, diz Jair Lantaller, coordenador da pesquisa e conselheiro do Instituto Geoc.

Quase 40% dos entrevistados neste ano informaram que não estão pagando em dia os serviços básicos; em 2015 essa parcela era de 34,2%.

Faz duas semanas que a Sabesp iniciou um mutirão para negociar o pagamento das contas de água em atraso. A cada dez dias, cinco vans fixas estacionadas em uma região da cidade de São Paulo recebem os usuários do serviço de água que estão inadimplentes para renegociar as dívidas. Nesta terça-feira, o mutirão está na zona Sul. Já ocorreu nas zonas Leste e Norte e deve ocorrer até o fim de dezembro.

Crédito pessoal

Também cresceu, segundo o Geoc, a fatia de consumidores atrasando os pagamentos do crédito pessoal. Em contrapartida, a pesquisa mostra que diminuiu, no último ano, a fatia daqueles que atrasam o pagamento do cartão de crédito (de 66,4% em 2015 para 58,2% este ano), em lojas de varejo (de 37,8% para 25,2%) e financiamento de veículos (de 23,4% para 19,2%).

Jocilene, por exemplo, deixou de ter cartão de crédito e não usa mais crédito pessoal por causa das taxas elevadas. Lantaller, do Geoc, diz que o recuo do cartão de crédito e de veículos ocorreu não só porque o consumidor está mais receoso, mas também porque as empresas estão cautelosas.

Um resultado que chama atenção de Lantaller é que 23% dos entrevistados acham que não vão conseguir pagar as dívidas, apesar de quase 30% reconhecerem que as contas de serviços básicos são prioritárias e, no caso da casa própria, 23%. O principal motivo apontado por 47% dos entrevistados para atrasar o pagamento em todas as linhas de crédito neste ano foi a perda de renda familiar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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