A Eletrobrás vai utilizar caixa próprio para efetuar o pagamento da primeira parcela dos dividendos que vence no dia 30 de junho deste ano. “Temos um fluxo de caixa e acreditamos que para as próximas parcelas isso também deverá ocorrer”, disse o presidente da estatal, José Antonio Muniz em entrevista coletiva concedida no final da tarde, na sede da companhia no Rio. A retirada deste montante não deverá prejudicar os investimentos de R$ 9 bilhões previstos para também saírem do caixa da estatal este ano.
Segundo ele, a empresa tem no momento um caixa de R$ 16 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões pertencem ao Fundo de Financiamento das Controladas (FFC). A este fundo será acrescido o volume que deverá ser captado no mercado estrangeiro ainda neste primeiro trimestre de 2010. “Temos a intenção de fazer um hedge para nossas contas com Itaipu, evitando os transtornos que temos com as oscilações cambiais”, explicou Muniz.
A Eletrobrás quer captar nesta primeira operação do ano um total de US$ 2 bilhões, volume recorde da empresa. No ano passado, havia sido o recorde com a captação de US$ 1 bilhão. De acordo com Muniz, a empresa aguarda apenas a autorização do Tesouro Nacional para levar a proposta de captação para a próxima reunião do seu conselho de administração, que acontece no final de fevereiro. “A partir daí estamos liberados e dispostos a realizar a operação.”
Ele afirmou ainda que a ideia inicial de fazer uma capitalização da empresa para quitar a dívida integralmente “não se mostrou adequada” e por isso foi descartada, sendo substituída por este pagamento em parcelas anuais. Já neste primeiro ano, o custo financeiro da dívida, que era de R$ 1,5 bilhão anual, deverá ter uma redução de pelo menos 12,5% no balanço, devido ao pagamento da primeira parcela. O porcentual pode aumentar, caso o pagamento seja antecipado. “Não descartamos a antecipação do pagamento”, disse Muniz.
O presidente da companhia não descartou que uma segunda captação seja feita no ano, desta vez voltada para financiar novos projetos. “Acreditamos que uma nova captação possa atingir mais US$ 2 bilhões até o final de 2010. Mas se tivermos condições de pegar dólar barato lá fora, podemos avançar um pouco mais”, comentou.
Projetos
Entre possíveis novos projetos, Muniz destacou a presença da Eletrobrás no leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. “Este é um empreendimento de grande porte e estaremos presentes no leilão em parceria com todas as empresas que nos quiserem como sócias.”
No ano de 2009, a estatal informou que efetuou 70% dos R$ 7 bilhões previstos para serem investidos, ou R$ 5,5 bilhões sozinha, além de mais R$ 1,5 bilhão que não estavam contabilizados na previsão e foram feitos em parcerias.
Para o presidente da companhia, a demora na definição sobre o pagamento dos dividendos foi provocada principalmente pela necessidade de a Eletrobrás participar da meta de superávit primário das contas da União (economia que o governo faz para o pagamento de juros da dívida pública). Mesmo sem ter sido retirada do superávit, e ainda com um déficit de R$ 2,6 bilhões (R$ 1,6 bilhão acumulados em 2009), ele acredita que “o sinal se inverteu” e há boas condições de a Eletrobrás ser retirada da meta de superávit em breve. “Este é um objetivo para depois de amanhã.”
Muniz estima que o interesse de investidores privados na companhia deverá aumentar consideravelmente após a negociação para o pagamento dos dividendos e ainda sua retirada da meta de superávit primário das contas públicas. Hoje,a companhia possui 79% de suas ações nas mãos do governo, fundos e BNDESPar. O maior investidor privado na Eletrobrás é uma empresa norueguesa de nome Skagen.
Segundo o presidente da Eletrobrás, assim que houver maior liquidez das ações, não está descartada uma oferta pública no mercado para aumentar o capital da empresa. “Mas isso é coisa para um futuro e não para este ano”, sinalizou.