Os “anos dourados” de rentabilidade alta e pouco risco da renda fixa estão, ao menos por ora, ficando para trás com a consolidação da perspectiva de que a taxa básica de juros, a Selic, ficará abaixo de dois dígitos até o fim deste ano. Para conseguir o mesmo nível de retorno de antes, será preciso arriscar mais, mesmo que de maneira ainda conservadora, por meio de fundos de investimento, por exemplo. As afirmações são do coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Vinícius Brunassi, cujo departamento foi recentemente criado para estimular os debates sobre a educação financeira do brasileiro.
O especialista alerta que, antes de mergulhar de cabeça nos fundos, é preciso atenção para as taxas de administração, que frequentemente corroem boa parte dos ganhos do investidor. A seguir, confira os principais trechos da entrevista.
Com a queda do juro é a hora de rever os investimentos?
Para o investidor pessoa física, a renda fixa continua atrativa, por mais que tenhamos essa perspectiva de queda da taxa de juros para algo em torno de 9,75% ou até menos. Contudo, o investidor padrão que ficou acostumado a uma rentabilidade bruta em torno de 14% ao ano vai ter de se mexer um pouco mais a partir de agora para conseguir o mesmo retorno. Esse é o momento de pensar em outros produtos além da renda fixa para melhorar a condição de rentabilidade, tomando um pouco mais de risco e mirando os objetivos de longo prazo.
Como fazer essa transição?
O primeiro passo é entender qual é o perfil de risco do investidor para saber como ele estaria disposto a fazer essa mudança de renda fixa para outras opções mais arriscadas de investimento. Para isso, é preciso apostar em educação financeira e informação.
Os fundos são boas opções entre a renda fixa e a variável?
Acredito que sim. Existem fundos atrativos que o investidor pode conhecer para dar o primeiro passo de maneira mais segura. Ele precisa ter bastante atenção à taxa de administração, é um ponto crucial dos fundos. Para ser interessante, o ideal é que ela não seja maior do que 1%. Enfatizo que, se possível, é interessante buscar um fundo que cobre uma taxa de performance caso ele tenha um retorno superior ao do mercado ou referência. É uma taxa bem paga porque de fato alia os interesses do fundo aos do cotista.
Como deve ser feita a escolha dos fundos?
Tem de ser algo muito bem planejado do ponto de vista de perfil e perspectiva de aplicação. Um dos erros cruciais é desconhecer o seu objetivo. Tem de saber exatamente o motivo do investimento, o que se espera e em quanto tempo. Tendo essa perspectiva é muito mais fácil decidir, por exemplo, entre um fundo multimercado ou um de ações, sempre buscando taxas de administração baixas.
Para quem pensa em investir em ações ainda dá pra aproveitar o boom da Bolsa?
Claro, ainda temos perspectivas positivas, como a própria queda da taxa Selic. Mas, para o investidor pessoa física, esse oba-oba do mercado tem de ser analisado com cuidado porque o mercado erra muito. O investidor precisa entender qual objetivo está buscando e compreender como vai chegar até lá para decidir se aloca parte dos recursos em renda variável e melhora os resultado de longo prazo. Mas ele não pode só querer surfar nesse bom momento da Bolsa porque ele não tem o nível de informação para saber como estará o mercado amanhã.
O sr. acredita que a educação financeira do investidor é baixa ou isso está mudando?
Temos evidência de que o investidor tem buscado alternativas mais interessantes do ponto de vista de rentabilidade, como o Tesouro Direto, mas ainda é pouco. Estamos aquém do necessário para tomar decisões com produtos que temos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.