O BNDES vai desembolsar em 2018 menos da metade do que costumava emprestar por ano nas últimas duas décadas. A diretoria do banco sinalizou que a capacidade de desembolsos ficará em 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) – cerca de R$ 83 bilhões. A média anual histórica nos últimos 20 anos foi de 2,3% do PIB. Em 2010, no auge, o porcentual foi o dobro e o volume de empréstimos chegou a R$ 278 bilhões.

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O encolhimento do banco reflete uma estratégia do governo federal, iniciada por Maria Silvia Bastos Marques, primeira escolhida do presidente Michel Temer para comandar a instituição. A nova política prevê um BNDES menor, focado especialmente no setor de infraestrutura e com espaço para devolver antecipadamente à União recursos que foram emprestados pelo Tesouro Nacional ao banco nos últimos anos.

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Aportes de cerca de R$ 440 bilhões feitos pelo Tesouro de 2009 a 2014, durante os governos do PT, colocaram o BNDES entre os maiores bancos de desenvolvimento do mundo. Com a musculatura reforçada, seu peso na economia cresceu junto com a capacidade de emprestar. Assim, ofereceu crédito barato quando a crise de 2008 secou linhas de crédito, financiou o bilionário plano de investimentos da Petrobrás e investiu pesado nos “campeões nacionais”, como ficou conhecida a política de apoio à internacionalização de grupos empresariais, como o frigorífico JBS.

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Com a aprovação final da renegociação de toda a dívida com a União, na semana passada, o BNDES terminará este mês com R$ 280 bilhões devolvidos ao Tesouro em pouco mais de dois anos. A renegociação encurtou o prazo da dívida de 2060 para 2040 e estabeleceu um cronograma de pagamentos ano a ano.

Após a aprovação final, a diretoria do banco indicou nível de 1,2% do PIB como a capacidade anual de desembolsos. No ano passado, já foi de 1,1%, também inferior à média dos últimos 20 anos, que foi de 2,3%. “O banco está entrando de novo em seu ritmo normal. Ele esteve, em alguns anos, em ritmo anormal”, afirmou o diretor financeiro do BNDES, Carlos Thadeu de Freitas, numa referência ao gigantismo após os aportes do Tesouro.

Neste ano, diante da fraca demanda por investimentos e de elevação de suas taxas de juros, o BNDES deverá liberar menos ainda do que a capacidade de 1,2% do PIB. Segundo Freitas, o valor ficará mais próximo de R$ 75 bilhões. Isso equivale a 1,08% do PIB, na estimativa da consultoria Inter.B.

Tamanho

Para o consultor Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B, o nível de 1,2% do PIB é até demais para o que deveria ser o novo foco do banco: “R$ 83 bilhões é um pouco elevado, dependendo de como se vislumbra o papel do BNDES”. O consultor defende um banco focado no financiamento de projetos com ganhos sociais muito claros, como os de mobilidade urbana e inovação. Nessa configuração, o banco poderia atuar também nas privatizações de estatais e concessões, mas ficaria de fora do financiamento à maioria das atividades das empresas, que recorreriam ao mercado privado para financiar investimentos.

Isso já está ocorrendo. As empresas começaram a buscar novas alternativas para financiar principalmente seus projetos de infraestrutura, sem subsídio estatal. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), as emissões de títulos de dívida pelas empresas somaram R$ 60,5 bilhões no primeiro semestre deste ano – o dobro do que foi emitido no mesmo período de 2017.

Para o professor do Instituto de Economia da UFRJ Ernani Torres Teixeira Filho, a redução rápida do BNDES traz efeitos colaterais. Um deles é o aumento da exposição das empresas à alta do dólar, uma vez que o banco está sendo substituído também por captações no exterior – foram R$ 38,9 bilhões no primeiro semestre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.