Com a saída de R$ 7,1 bilhões de investimento estrangeiro da Bolsa e com a queda da Selic (a taxa básica de juros), o investidor local está ganhando um papel mais relevante no mercado acionário.

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De um lado, a redução dos juros tem forçado os investidores a deixar a renda fixa (como títulos do Tesouro) para que seus aportes tenham um bom retorno. Muitos querem recorrer às ações – ativos mais voláteis e que podem apresentar rendimentos mais altos que os da renda fixa -, mas ainda não compreendem esse mundo. Do outro lado, a Bolsa de Valores quer atrair um maior número de pessoas físicas e, para isso, anunciou na semana passada a redução de tarifas para o pequeno investidor.

No meio dessas duas pontas, estão as gestoras de investimento, que, para conectá-las, estão produzindo conteúdo de educação financeira – especialmente nas redes sociais – para estimular o ingresso de pessoas física nos investimentos de risco.

Ao dialogar com o público que tem vontade de investir mas não teve acesso a informações amplas sobre o mercado de ações, as gestoras esperam deixar as pessoas confiantes e, assim, angariar novos clientes.

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Diante da acirrada disputa por clientes, as gestoras estão adotando algumas estratégias de fidelização do público. A Easynvest, plataforma independente de investimentos, está repaginando a forma com que produz conteúdo e, para isso, contratou o jornalista Dony De Nuccio e o economista Samy Dana, ambos ex-GloboNews. Eles estão comandando o novo canal de análises do mercado financeiro, cuja previsão de lançamento é o primeiro trimestre de 2020.

A Easynvest tem um milhão de contas e, no cadastro de novos clientes, 40% deles passaram por alguma rede social da empresa antes de tomar decisões, conta o gerente sênior de marketing, Anderson Paiva.

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Outra corretora que está apostando em novos conteúdos é a Ativa Investimentos, que contratou o jornalista Guto Abranches, também ex-GloboNews, para apresentar dois programas no canal do YouTube.

Já a gestora Constellation, que sempre contou com uma forte presença de investidores estrangeiros em sua clientela, criou um novo serviço para atrair os investidores locais, diz o fundador e chefe de investimentos, Florian Bartunek.

Em dezembro, a gestora lançou um curso de nove vídeos no canal Constellation University, no Youtube, mostrando o dia a dia da equipe, desde a escolha de ações até detalhes mais técnicos, como a projeção de lucro de uma empresa que está na Bolsa. “Há a falsa sensação de que não é preciso estudar para investir. Vou na Bolsa, compro uma ação e pronto. Mas ninguém entra em um avião e vai logo pilotar”, diz Bartunek.

Momento

Uma dúvida entre aqueles que querem entrar no mercado acionário é por que fazer isso agora, justamente no momento em que o investidor estrangeiro está deixando o País. Há riscos que o brasileiro não está considerando e dos quais os estrangeiros estão fugindo?

Segundo Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, a forma com que o brasileiro enxerga o Brasil é diferente da dos estrangeiros. “Quando falamos de grandes números (de fuga de capital) estamos falando de investidores institucionais. Eles comparam o Brasil com qualquer outro país do mundo”, diz. “E esse efeito das crises da Argentina e do Chile pode ter tido um impacto negativo quando se trata de América Latina.”

Já o brasileiro, que, segundo ela, não considera tanto a diversificação internacional, analisa quase todas as oportunidades de investimento dentro de casa: renda fixa, variável, fundo de investimento. E, com a taxa de juros baixa, a renda variável costuma ser mais atraente. Além disso, a grande maioria dos bancos também aposta que, dado o cenário econômico brasileiro, as empresas devem continuar avançando na Bolsa neste ano, o que torna o investimento no mercado acionário atraente.

Apesar do crescimento do investidor local na Bolsa neste último ano e da fuga do investidor de fora, os estrangeiros ainda são 45,2% dos investidores na Bolsa. Em 2018, no entanto, eram 47,2%. As pessoas físicas – que atingiram o recorde de 1,5 milhão em 2019 – são 18,2%, ante 17% em 2018. Tudo indica que ainda há muito cliente brasileiro para as gestoras atraírem e disputarem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.