A Eletrobras está mais otimista com seu processo de desalavancagem. Em evento nesta quarta-feira, 18, em São Paulo, o presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior, disse que a empresa pode alcançar no ano que vem uma relação dívida líquida/Ebitda abaixo de 3 vezes, ante as 4,7 vezes anotadas ao final de junho passado. A redução será possível principalmente por conta da privatização das distribuidoras que a companhia opera no Norte e Nordeste, que são deficitárias e devem ser privatizadas no início do ano que vem, e com a venda de participações em Sociedades de Propósito Específico (SPE), que devem ser executadas ao longo dos próximos meses.

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Questionado por jornalistas sobre a previsão mais otimista apresentada nesta quarta em relação à meta indicada anteriormente de número inferior a 4 vezes, apresentado reiteradamente como objetivo, em meio ao plano de negócios da empresa apresentado no ano passado, Ferreira Junior disse que o plano previa apenas a privatização das distribuidoras e os esforços operacionais. “Com a venda das SPEs, temos uma contribuição adicional”, disse. “Por isso que tenho convicção que com as duas ações vamos chegar abaixo de três, que é o valor que dá para o ano que vem”, completou.

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No entanto, desde a primeira apresentação do plano estratégico atualmente em vigor, a empresa citava a venda de SPEs como uma das fontes de recurso para o pagamento de dívidas e redução da alavancagem. “Temos uma combinação de medidas para ao final do ano que vem (2017) reduzir a alavancagem para 4 vezes e para isso temos seis iniciativas, como redução de investimentos, privatização, venda de imóveis, SPEs (Sociedades de Propósito Específico), otimização tributária e reestruturação societária visando aproveitar o crédito fiscal”, disse Ferreira Junior em teleconferência com analistas realizada em novembro do ano passado, quando apresentou pela primeira vez o Novo Plano Diretor de Negócios e Gestão da companhia.

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Na ocasião, a estimativa feita foi a de que a venda das SPEs poderia gerar cerca de R$ 4,6 bilhões. Não estavam, porém, identificados quais ativos seriam ofertados ao mercado. Ferreira Junior indicou nesta quarta um número estimado a ser obtido com os desinvestimentos, mas a companhia já tem um quadro mais detalhado sobre os ativos que pretende se desfazer, com a lista das SPEs que devem ser colocadas a mercado e uma análise feita por um assessor financeiro sobre o valor dos ativos. E tem sido sondada por diversos parceiros interessados em comprar a parte da estatal na sociedade.

Adicionalmente, a companhia reviu o potencial de venda de ativos imobiliários que possui e não são necessários para a operação. No ano passado, a Eletrobras apresentou um potencial de receita com a venda de imóveis na casa dos R$ 200 milhões. Nesta quarta, Ferreira Junior falou em R$ 500 milhões.

Além disso, a companhia também tem mais clareza nos ganhos a serem obtidos com as iniciativas de melhora operacional, tendo em vista que já executou seu programa de incentivo à aposentadoria, que obteve 2.100 adesões, gerando um gasto de R$ 809 milhões, mas que deve proporcionar uma economia da ordem de R$ 890 milhões anuais, conforme destacou Ferreira Junior nesta quarta-feira. Em outra frente, a estatal reduziu as gratificações dadas a cerca de 700 funcionários, o que gerou uma economia adicional de R$ 50 milhões, comentou o executivo.

Plano de demissão

Agora, a Eletrobras se prepara para uma nova redução do quadro de funcionários. Deve lançar em breve um Plano de Demissão Voluntária para o qual espera a adesão de mais de 2 mil empregados. O programa será lançado enquanto a companhia avança na implementação de um Centro de Serviços Compartilhados (CSC) que resultará em “redundâncias” de postos de trabalho. Neste caso, disse Ferreira Junior, o custo com a aplicação do sistema operacional e com as demissões deve alcançar R$ 1,2 bilhão, gerando uma economia de R$ 790 milhões anuais.

Ao final do processo, considerado os programas de demissão e de aposentadoria e a venda das distribuidoras, a administração da Eletrobras prevê ficar com apenas 12.600 funcionários, ante os quase 24 mil que tinha no início deste ano. Com isso, as despesas de atividade e de pessoal devem cair ao patamar de aproximadamente R$ 6 bilhões, ante os R$ 10 bilhões iniciais.

Além disso, a redução do quadro ajudará na reorganização física da empresa, que está concentrando suas atividades em um número menor de escritórios. A estimativa dada nesta quarta por Ferreira Junior é de que a Eletrobras terá uma economia de 65% com a infraestrutura física.

Privatização

Seja como for, a meta pode tornar a empresa mais atrativa a um maior grupo de potenciais interessados na oferta de ações planejada pelo governo para o ano que vem e que deve resultar na privatização da companhia. “Quanto mais fizermos (em busca de melhoria da eficiência operacional), menos vai ter de fazer o privado”, disse o executivo. “Se o investidor olhar essa diferença grande de custo real vis-a-vis o custo regulatório (que a companhia registra atualmente), ele já tem o business plan”, disse.

O executivo afirmou, porém, que as iniciativas de ganho de eficiência e corte de pessoal nada têm a ver como a privatização, mas estão relacionadas com a necessidade de “resgatar produtividade” da estatal, que é menor que das demais empresas do setor. Questionado sobre o descontentamento dos sindicatos com as iniciativas, Ferreira Junior considerou “natural”, tendo em vista a necessidade de enxugamento do quadro. “Eles entendem que se não privatizar não vai acontecer nada, mas o que eu coloco é: a sociedade vai permitir que esses buracos sejam cobertos pelo Tesouro? Eu acho que não. (…) Eu recomendo aos empregados que nos ajudem com esse plano de reestruturação, que não tem nada a ver com a privatização da companhia”, disse.