Com o impacto da piora da crise política sobre a conclusão do ajuste fiscal na economia brasileira, a retomada das vendas de veículos novos no Brasil deve ficar somente para o segundo trimestre de 2016, previu nesta segunda-feira, 20, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, durante seminário sobre perspectivas para o setor promovido pela agência de notícias Autodata. Para o segundo semestre deste ano, o executivo projetou uma “estabilidade, com viés de alta”.
“No início de junho, quando fizemos revisão de nossas previsões, colocamos claramente que poderíamos ter um início de retomada no último trimestre deste ano, mas, com o adiamento dessa questão (ajuste fiscal), já podemos pensar em uma inflexão da curva no segundo trimestre do próximo ano”, afirmou Moan. Na avaliação dele, a crise política deve atrasar a aprovação das medidas do ajuste no Congresso, o que “nos leva a uma crise um pouco mais prolongada e a um volume de vendas baixíssimo por mais tempo do que imaginávamos”.
Para o segundo semestre de 2015, o executivo estimou que o setor deve apresentar um desempenho estável em relação à primeira metade do ano. Ele previu que as medidas de ajuste nos estoques – até maio, equivalente a 47 dias de vendas – devem durar até setembro. “Não vemos cenário de queda mais acentuada do que já tivemos. Diria muito pelo contrário: podemos até ter alguns indicadores positivos, além da estabilidade com viés de alta”, disse. De janeiro a junho, os emplacamentos acumulam retração de 20,7% ante igual período de 2015, enquanto a produção recua 18,5%.
Para 2015, a Anfavea prevê que serão emplacados 2,779 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus novos em todo o País, o equivalente a queda de 20,6% em relação ao ano passado. Já para a produção, a entidade estima que serão fabricadas 2,585 milhões de unidades, retração de 17,8% ante 2014. A associação que reúne as montadoras projeta ainda que serão exportados 338 mil veículos neste ano, crescimento de pouco mais de 1% na comparação com o ano passado.
Exagero
Moan ainda avaliou que os dados ruins da indústria automotiva brasileira refletem o “estado de espírito” não só do setor, mas da economia como um todo, inclusive de áreas que, em tese, não deveriam sentir, como o agronegócio. “Qual a crise real do setor de agronegócio brasileiro? A previsão é de safra recorde”, questionou. “Qual é o motivo real que está impactando o mercado? Se pensarmos e nos concentrarmos nesse setor, vamos perceber: há um exagero nesse clima de pessimismo que hoje verificamos no nosso País”, criticou.
O executivo destacou que a Anfavea vem provendo ações para aumentar as vendas internas e estimular as exportações, como festivais de vendas com descontos e renovação de acordos comerciais com outros países. De acordo com ele, essas ações visam melhorar o nível de confiança dos consumidores. “A indústria automobilística continua investindo. E continuamos investindo porque sabemos que o momento (de crise) que estamos passando se restringe a um momento”, disse.