A colheita da safra de soja 2003/2004 já está praticamente concluída no Paraná. De acordo com o Departamento Econômico Rural (Deral), vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, do total de 3,916 milhões hectares de área plantada com o grão, faltam no máximo 50 mil hectares para serem colhidos. “Quase 99% da safra foi colhida e 65% vendida. A colheita só não acabou ainda por conta do excesso de chuva no mês de maio”, afirma o economista Norberto Ortigara, da previsão de safra do Deral. Segundo ele, caso a chuva cesse, é possível que na semana que vem a colheita do grão esteja concluída no Estado. As regiões onde a colheita ainda não acabou são próximas a Ponta Grossa, Guaratuba, Irati, União da Vitória e Lapa.
A safra de soja este ano é de 9,985 milhões de toneladas – quase 8,8% menor do que a registrada no ano passado, quando foi de 10,954 milhões de toneladas. Em relação às estimativas iniciais, a safra também ficou aquém: quase 2 milhões de toneladas a menos. “A estimativa era de 11,950 milhões de toneladas. A queda foi, sobretudo, por conta da estiagem de janeiro até o final de abril”, aponta Ortigara.
De acordo com o economista, as áreas mais atingidas pela seca foram Toledo, Cascavel (Oeste), Umuarama, Paranavaí (Noroeste), parte de Maringá, Londrina (Norte) e parte de Francisco Beltrão (Sudoeste). “Houve também uma pequena perda de quantidade e qualidade com as chuvas de maio, mas só no próximo dia 23 a gente terá a quantificação disso”, diz. Nesta safra, a área plantada de soja aumentou quase 8,1% – passou de 3,622 milhões no passado para 3,916 milhões de hectares este ano.
Cotação
Sobre o preço da soja, Norberto Ortigara informa que a saca está cotada a aproximadamente R$ 40,00. Mas lembra que já chegou a R$ 53,00 no interior do Estado, no início do ano. “Quarenta reais ainda dá um excelente lucro, mas na cabeça do produtor ainda é pouco se comparado ao preço que já chegou”, diz Ortigara. Segundo ele, a tendência é que o agricultor que ainda não comercializou sua produção só o faça a partir de setembro, quando o grão deve alcançar a melhor cotação. “Setembro é historicamente o melhor mês. É quando a safra norte-americana já está sendo colhida e o mercado, definido”, explica.
“A maioria dos produtores deve tirar o pé do acelerador agora, o que é mais conveniente”, diz. A exceção, acredita ele, deve ficar por conta de alguns agricultores que precisam de dinheiro para investir na safra de trigo ou mesmo para comprar insumos para a próxima safra. “A não ser que o câmbio (dólar) continue subindo até afetar a cotação da soja, a maioria deve mesmo segurar”, aponta.
Este ano, o preço médio da saca de soja ficou em R$ 45,00 – valor bem superior ao registrado no ano passado, quando foi R$ 38,00. De acordo com Ortigara, o preço médio da safra 2003/2004 poderia ser melhor, caso não fosse a política comercial da China. “O comportamento da China deixou o mercado instável e, apesar do preço bom (R$ 40,00), o pessoal vai esperar setembro chegar.”
Tolerância zero para a soja
A partir de agora, a cadeia produtiva do complexo soja deverá adotar padrões de qualidade em que o produto in natura destinado ao consumo direto (humano ou animal) terá tolerância zero para a presença de partículas com suspeita de contaminação. A medida busca proteger o consumidor interno. No caso de grãos destinados ao processamento e à exportação, será permitida apenas uma partícula tóxica por quilo, na média ponderada.
Os novos procedimentos para certificação das condições higiênico-sanitárias da soja em grão foram aprovados pela Instrução Normativa nº 15, assinada na última quarta-feira pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, e publicada ontem no Diário Oficial da União. “As regras para comercialização de soja que entram em vigor hoje (ontem) no Brasil são duas vezes mais rigorosas que as normas dos Estados Unidos sobre o assunto”, afirmou o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, Girabis Evangelista Ramos.
Impasse
A medida foi tomada pelo governo federal na tentativa de colocar fim ao impasse entre Brasil e China. Há exato um mês, a China suspendeu as primeiras compras de soja brasileira, das empresas Noble Grain, Cargill, Irmãos Trevisan e Bianchini, depois de encontrar sementes com fungicida. Era apenas o início do impasse que, segundo estimativas da iniciativa privada, já resultou em prejuízo de US$ 1 bilhão para o Brasil.
Embora nenhuma das cargas embargadas tenha partido do Porto de Paranaguá, a fiscalização já foi intensificada. No início do mês, seis caminhões vindos de diferentes Estados foram refugados pelo porto, através da estatal Claspar (Empresa Paranaense de Classificação de Produtos) por apresentarem suspeitas de conterem sementes tratadas. Os veículos foram lacrados pelo Ministério da Agricultura e enviados às suas origens.