Na atual conjuntura da economia brasileira, realinhar os preços administrados começa a ganhar contornos de relevância superiores aos das mudanças desejadas para a política fiscal. É o que avalia Patrícia Krause, economista da Coface para América Latina, que em conversa com o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, mostrou um pouco do seu cenário político e econômico para o ano que vem. Segundo ela, se o próximo presidente da República – seja ele quem for – assumir a necessidade de se ajustar os preços dos combustíveis, da energia elétrica e de outros produtos e serviços administrados pelo governo, de imediato a política fiscal acabará sendo beneficiada.
No caso da energia, Patrícia entende que se a tarifa for elevada, o Tesouro Nacional deixará de arcar com a despesa que hoje cobre as perdas das empresas do setor elétrico com o não reajuste das contas de luz. Em 2013, o Tesouro desembolsou R$ 9,8 bilhões para compensar as empresas do setor elétrico e, neste ano, mais R$ 13 bilhões já foram reservados no Orçamento. Entra também nesta conta empréstimo de R$ 11,2 bilhões já feito às empresas e mais um aditivo, em discussão dentro do governo, de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões ao empréstimo.
Mas para que o realinhamento dos administrados ocorra sem implicar em mais aumento de inflação, Patrícia receita mais algumas doses de aumento de juros. “É preciso que o próximo governo reajuste os preços administrados e, se preciso, retome os aumentos da taxa de juro”, diz a economista, que projeta para o ano que vem uma Selic de 12% ao ano e inflação de 6,5%.
Do ponto de vista político, segundo a economista da Coface, tais ajustes seriam implementados mais fácil e rapidamente se a oposição vencesse a eleição presidencial de outubro. “Caso a oposição vença a eleição, fica mais fácil o governo fazer mais rapidamente as reformas, porque fica também mas fácil justificar ajustes mais fortes e impopulares”, afirma.
No caso de reeleição da presidente Dilma Rousseff, as mudanças também serão feitas, prevê Patrícia. “Mas neste caso, os ajustes serão graduais, aos poucos”, explica. Mesmo porque, segundo a economista, qualquer sinalização de mudança emitida pela presidente Dilma não será aceita de cara pelos empresários e pelos investidores como algo que, de fato, será cumprido.
Pesa ainda contra o governo de Dilma Rousseff a dificuldade de negociação que a presidente tem com o Congresso, diz a economista. A despeito das dificuldades que a presidente enfrenta, a Coface prevê uma taxa de 1,5% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e de expansão de 1,3% para 2015. Segundo Patrícia, o crescimento neste e no próximo ano será puxado pelo agronegócio, que vai muito bem, e pelo setor de serviços, que, embora já cresça a taxas menores, ainda está bem.