A cerca de 15 minutos do centro de Maringá, no Norte do Paraná, o visitante que chega à Cocamar Cooperativa Agroindustrial pode duvidar que está diante de uma cooperativa agrícola. Instalada em uma área de 130 hectares, com 13 fábricas, ela é considerada a mais industrializada do país. Óleos vegetais, algodão, álcool, fios de seda, sucos de frutas e maionese são alguns dos produtos industrializados pela cooperativa que, este ano, deve faturar R$ 1 bilhão, 29% a mais do que no ano passado.
O Paraná é o campeão brasileiro na produção de grãos, e as cooperativas locais respondem por 51% da produção do estado. Mesmo assim, o êxito da Cocamar é apenas um exemplo de como a agricultura brasileira -e mais do que isso, o agronegócio, envolvendo várias etapas da industrialização dos produtos – vem crescendo no país, principalmente desde 1999, com a desvalorização do real.
Com a mudança no regime cambial do país, o potencial para exportações cresceu. Só este ano, o saldo comercial do agronegócio já chega a US$ 9 bilhões, 94% do superávit da balança brasileira.
Produtores e especialistas são unânimes em afirmar que a agropecuária galgou o posto de setor mais dinâmico da economia brasileira graças a uma combinação de sucesso entre oferta de crédito, investimentos em pesquisa, mecanização e busca de mercados externos.
– Nos anos 90, houve uma ampliação da escala de produção, com o uso intensivo de tecnologia. Mas o que trouxe dinamismo foi o fato de a agricultura, antes dos demais setores da economia, ter se voltado para o mercado externo – afirma o economista Fábio Silveira, da consultoria MB Asociados. – O Brasil tem produto competitivo e aproveitou esse potencial a partir de 1999. Apesar do protecionismo nos Estados Unidos e na Europa, os produtores buscaram outros mercados e aumentaram as vendas para Rússia, China e outros países asiáticos.
Mesmo com a economia doméstica patinando (o crescimento médio do PIB brasileiro nos últimos quatro anos foi de apenas 1,63%), o agronegócio brasileiro deve gerar uma riqueza de R$ 430 bilhões em 2003 (em 1999, eram R$ 306,5 bilhões), graças principalmente às vendas externas. O total, que inclui o fornecimento de insumos e a produção de máquinas agrícolas, é uma fatia de cerca de 30% do PIB brasileiro. A projeção é da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Só com as lavouras, a receita gerada pelo campo deve chegar a R$ 101 bilhões, um crescimento de 38,55% em relação aos R$ 72,9 bilhões do ano passado, segundo projeção da MB Associados.
Os investimentos em máquinas, equipamentos e pesquisas resultaram em gigantescos ganhos de produtividade. O especialista Carlos Alberto Lauria, chefe do Departamento de Agropecuária do IBGE, destaca que, entre 1991 e este ano, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas mais do que dobrou de tamanho. Os 56,16 milhões de toneladas do início dos anos 90 se multiplicaram para 118,54 milhões de toneladas, na previsão do IBGE para este ano. No mesmo período, a área de colheita cresceu apenas 16,3%.
– Se a produção aumentou muito mais do que a área plantada, significa que houve um enorme salto de produtividade – diz Lauria.
– A produção aumentou entre 10% e 15% com o uso da tecnologia de máquinas agrícolas, observação do solo para plantio de variedades e adaptação das máquinas para cada tipo de solo que tenho -diz Antonio Pedrini, 54 anos, produtor paranaense, que passou de pequeno a grande produtor de soja, milho, trigo e canola em 23 anos.
A receita do sucesso, diz ele, é manter um investimento anual de 10% do lucro da produção em novos equipamentos – o que representa cerca de R$ 150 mil ao ano. Segundo Pedrini, sócio da Cocamar, os computadores ajudam no controle de custos, produção por variedade de semente, tipos de insumos e defensivos utilizados, tarefas que antes dependiam apenas da experiência.
No ano passado, o PIB do agronegócio brasileiro cresceu 8,5%, contra uma expansão de apenas 1,5% no total da economia. Mesmo tomando como base o resultado do ano passado – o melhor do setor nos últimos dez anos – a CNA espera que o PIB do agronegócio cresça 1,35% em 2003.
– Sem o bom resultado do agronegócio em 2002, a economia brasileira não teria crescido – disse o chefe do Departamento Econômico da CNA, Getúlio Pernambuco.
Ele lembra que, este ano, a agricultura brasileira deve crescer menos do que em 2002 porque insumos e máquinas tiveram aumentos de preços que chegam a mais de 70%. Pernambuco disse ainda que a desvalorização cambial do ano passado acabou facilitando as exportações e criando uma base de comparação muito alta para as vendas de 2003:
– Mas mesmo com um desempenho um pouco menor que o do ano passado, a agricultura vai continuar a beneficiar muito a economia.
E entre os benefícios está o de trazer dólares para o país. A Cooperativa Lar, localizada em Medianeira, no extremo oeste do Paraná, por exemplo, conquistou a Europa vendendo frangos para os hambúrgueres da rede McDonald?s da Inglaterra e outros 37 países.
Controle com estoques
O governo poderia evitar oscilações de preços nas lavouras voltadas para o mercado doméstico com a criação de estoques reguladores. Fábio Silveira, da MB Associados, sugere também a adoção de instrumentos financeiros como, por exemplo, leilões de contratos de opção de compra ou venda dos cereais e grãos.
Os produtores de arroz e feijão também não contam com a oferta de crédito disponível para as lavouras de exportação. Silveira lembra que o financiamento vem do setor privado, principalmente dos compradores. No caso da soja, as esmagadoras, os processadores e os exportadores do grão liberam recursos para viabilizar o plantio. No setor de fumo, a indústria há muitos anos participa do financiamento.