O economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, admitiu nesta terça-feira (3) que “é bem possível haver uma recessão técnica no Brasil no primeiro trimestre”. De acordo com os conceitos macroeconômicos mais usados, um país entra tecnicamente em recessão quando seu Produto Interno Bruto (PIB) encolhe por dois trimestres consecutivos. Segundo o economista, o PIB brasileiro deve ter tido uma queda no quarto trimestre e também é possível que volte a apresentar uma retração no três primeiros meses de 2009.
“O primeiro trimestre está comprometido, até pelo efeito ao longo das cadeias produtivas.” Ele explicou que em um primeiro momento a crise econômica atingiu com mais força setores exportadores e que exigem grande volume de crédito para as suas vendas, como é o caso das montadoras. Mas, como por trás dessas grandes indústrias há geralmente uma grande cadeia de fornecedores de menor porte, a desaceleração na ponta acaba tendo um efeito mais amplo sobre a economia. E é esse “espraiamento” da crise que deve se fazer sentir no primeiro trimestre, avaliou.
“Os nossos dados e os do IBGE mostram uma sintonia grande e negativa, que demanda grande preocupação e exige urgência em novas medidas para lidar com a crise”, afirmou Castelo Branco, reiterando pleitos da indústria como redução mais rápida da taxa Selic, novas medidas de incentivo ao crédito e a conclusão mais rapidamente possível do pacote de incentivo à construção civil.
O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, que normalmente não participa das entrevistas coletivas à imprensa para a divulgação dos indicadores industriais, desta vez esteve presente e começou sua fala destacando a gravidade do dado apresentado hoje pelo IBGE, que mostra que em apenas três meses, de outubro a dezembro, a indústria registrou queda de 19,8%, a redução mais forte ocorrida em tão curto espaço de tempo desde o início da pesquisa, em 1991. “O ajuste na indústria está sendo mais forte e mais intenso do que era imaginado.”
Monteiro Neto também chamou a atenção para o fato de que a crise não está mais limitada a alguns setores, mas atinge inclusive o ramo de bens não duráveis, que depende menos de crédito. Os últimos indicadores da CNI mostram que as horas trabalhadas na produção verificaram queda em dezembro ante novembro em todos os setores analisados.