Os lojistas preparam uma campanha de refinanciamento de dívidas para ser iniciada em outubro deste ano e estimular as vendas de Natal de 2010. “Vamos lançar campanha de recuperação maciça de crédito. Será uma prévia para aquecer vendas de Natal”, disse o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior.

continua após a publicidade

Segundo ele, a estratégia surgiu de uma decisão local, mas a proposta é expandir essa campanha para todo o País. O comércio pretende reparcelar as dívidas em atraso com condições especiais. Pellizzaro Junior não adiantou, porém, quais seriam essas condições. “É momento apropriado para limpar o nome do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Será como um Refis dos trabalhadores”, afirmou, em referência ao Programa de Recuperação Fiscal utilizado por empresas para o pagamento de dívidas em atraso.

Cartões de crédito

Frustrados com a confirmação de que o Banco Central (BC) não tem como regulamentar o setor de cartões de crédito, os lojistas vão pressionar o Legislativo para tomar a frente da situação. “O BC finalizou o estudo sobre o setor e declarou a falta de embasamento legal para atuar em relação a isso. Então trabalharemos com a frente parlamentar para que esse processo ande dentro do Congresso”, disse Pellizzaro Júnior. Segundo ele, da mesma forma que existem agências reguladoras para setores como energia elétrica, telefonia e aviação, entre outras, é preciso haver uma legislação que “enquadre” o segmento de cartões. “O BC não conseguiu, mas não foi porque não quis. Queremos enquadrar os cartões de crédito”, afirmou. “Eles têm que responder para alguém.”

continua após a publicidade

Pellizzaro Júnior salientou que, se as demais agências foram instituídas em função da repercussão que trazem para o dia a dia da sociedade, o mesmo deve ser levado em conta em relação aos cartões, que, segundo ele, já representam 20% das transações comerciais. “O governo deixou esse segmento sem controle nenhum, o que, para nós, é um absurdo”, afirmou.

Para o presidente da CNDL, a luta não deve ser apenas dos lojistas, mas principalmente dos consumidores, que são as pessoas que arcam com os custos das transações por cartões. “O custo não é do lojista. Ele precisa repassar esse custo para o produto”, ressaltou. Segundo Pellizzaro Júnior, apesar de o consumidor já ter conhecimento do procedimento, não pode pedir desconto quando realiza a compra com dinheiro vivo. Apenas em Brasília há diferenciação do meio de pagamento por uma decisão da Justiça local. “Hoje, os cartões nadam de braçada”, avaliou.

continua após a publicidade

Segundo ele, 35% da inadimplência no comércio varejista já é do segmento de cartões de crédito. “A pessoa entra no rotativo e esta é uma areia movediça, que não se tem como sair”, disse. Pellizzaro Júnior disse também que não há como o comerciante ser contra a existência do cartão de crédito. “Ser contra cartão de crédito é como ser contra o vento. Cartões e shopping são processos econômicos sem volta. É uma realidade de mercado”, avaliou.

O alívio a ser verificado em relação a este setor para o curto prazo, conforme o presidente da CNDL, é o fim da exclusividade entre bandeiras e as empresas credenciadoras de lojistas, a partir de julho. “Isso vai melhorar a taxa de desconto e de aluguel das máquinas, pois as empresas vão começar a lutar entre elas”, disse. Mesmo assim, o setor já iniciou a campanha a favor da normatização da indústria de cartões, que tem o slogan “Eu quero o meu cliente de volta”. “Se não fizermos isso, o consumidor fica muito endividado e vai embora”, alegou.

Juros

O BC errou em sua estratégia de elevar a taxa básica de juros para controlar a liquidez do mercado e pode acabar pressionando a inflação, na avaliação do presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Júnior. Segundo ele, era aguardada uma elevação da Selic (a taxa básica de juros da economia) no mês passado, mas o presidente da CNDL considerou que a alta de 0,75 ponto porcentual foi exagerada. “O aumento da Selic era até necessário, mas achei a dose do remédio muito forte”, argumentou, acrescentando que uma alta de 0,25 ponto porcentual seria suficiente para o BC demonstrar que está atento ao aquecimento da economia.

A visão de Pellizzaro Júnior em relação ao aumento da inflação é a de que a decisão da autoridade monetária pode frear de forma mais rápida os investimentos do que o consumo e, assim, tornar a demanda maior do que a oferta. “Em vez de ajudar esse delta da equação, a medida pode causar inflação, porque os investimentos podem parar antes do consumo, e isso me preocupa bastante”, considerou. “Os lojistas estão de luto, mas não por causa da elevação em si, mas por causa da alta que foi”, acrescentou.

Ele salientou que já é possível identificar um esfriamento das vendas de veículos e de produtos da linha branca (fogões, geladeira, lavadoras e tanquinhos), por exemplo, itens que foram beneficiados pelas políticas anticíclicas do governo em função dos impactos da crise financeira internacional.