CNC: inflação, crédito caro e baixa confiança puxam queda na intenção de consumo

A inflação alta combinada com crédito mais caro e a baixa confiança do consumidor foram os principais responsáveis pela forte queda na Intenção do Consumo das Famílias (ICF) em agosto, analisa o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. A entidade divulgou mais cedo que a ICF caiu 32,3% na comparação com o mesmo mês de 2014, no menor patamar da série histórica iniciada em janeiro de 2010.

“Existe uma conjunção de fatores negativos empurrando tanto o consumo recente quanto a perspectiva dele para o campo negativo”, afirmou Bentes. No caso da inflação, há uma reflexão sobre a percepção do consumidor em relação ao mercado de trabalho, diz o economista. Dois subíndices da ICF relativos ao tema tiveram forte queda no período: situação do emprego atual (queda de 16,6% ante agosto de 2014) e satisfação com a renda atual (-26,6% na mesma base de comparação).

Para os próximos meses, a previsão é de piora. Com a deterioração das condições, a expectativa do economista é que todos os sete componentes que compõem o ICF estarão no campo negativo na leitura do mês de outubro. Hoje, a renda atual está em 100,2 pontos e o emprego atual, em 108,4 – a escala varia de zero a 200, sendo que resultados acima de 100 apontam avaliação predominantemente positiva.

Apesar de ainda estarem acima de 100, encontram-se próximos ao limite de se tornarem negativos e também no menor patamar da série histórica, destacou. A estimativa é que a renda atual fique no campo negativo em agosto e o outro indicador, no mês seguinte.

O economista também avaliou que dois componentes da ICF tiveram forte queda em agosto e merecem destaque. O primeiro é o relativo à perspectiva de consumo, que indica a intenção pelos próximos seis meses. Houve recuo de 46,7% em agosto na comparação com o mesmo mês de 2014.

“Essa forte queda, maior do que a do ICF, sinaliza que o ano ruim do consumo no Brasil ainda não tem perspectiva de melhora, de reversão”. Além disso, mostra que o consumidor já avalia o início de 2016 como difícil. “A gente vai começar 2016 com uma herança ruim de 2015. Esse farol da perspectiva já mostra um pouco de 2016 também.”

Outro componente que recuou fortemente no mês foi o relacionado ao momento para compra de bens duráveis. A retração foi de 49,5% na comparação anual. “A compra de bens de consumo duráveis tem, de maneira mais clara, sinalizado no varejo brasileiro que essa conjuntura desfavorável ainda está longe de ser revertida”.

Isso ocorre diante da queda de poder aquisitivo dos brasileiros, ameaça de desemprego e crédito mais escasso e caro. “O mercado de trabalho tem produzido números ruins do ponto de vista do emprego e da renda, mas no ano passado as pessoas recorriam aos empréstimos e financiamentos para manter o padrão de consumo. Essa estratégia hoje não está mais presente com o aumento dos juros. Quem opta por esses recursos toma dívidas longas e caras”, afirmou.

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