A taxa de desemprego ainda elevada ajuda a explicar o maior nível em sete anos na inadimplência, conforme apontado em setembro pela a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), afirmou Marianne Hanson, economista da entidade. Mais cedo, a CNC informou que a proporção das famílias com dívidas ou contas em atraso cresceu 0,4 ponto porcentual (p.p.) em setembro, para 25% das famílias. É o maior patamar desde maio de 2010.
Pela amostra, isso significa que 3,9 milhões de famílias estão inadimplentes de alguma forma – a metodologia da pesquisa da CNC considera não apenas atrasos em pagamento de dívidas nos bancos, mas em relação a qualquer “obrigação financeira” da família, incluindo contas de consumo, como água e luz.
Marianne explicou que a melhora no nível da atividade econômica, a cautela com novas dívidas e a liberação das contas inativas do FGTS de fato provocaram uma desalavancagem das famílias, com redução do endividamento. Mas isso não basta. “Tem uma parcela das famílias que conseguiram reduzir seu endividamento, mas tem também uma parcela muito significativa com dificuldades”, disse a economista.
A Peic mostrou que o porcentual de famílias endividadas alcançou 58,4% em setembro de 2017, alta de 0,4 p.p. na comparação com agosto. O nível está abaixo da média histórica. Em setembro de 2014, quando a recessão ainda estava no início, o indicador estava em 63,1%.
Como a Peic considera no endividamento qualquer tipo de dívida, incluindo as pagas em dias, um aumento do nível de endividamento tende a contribuir para o avanço do consumo e da recuperação da economia, lembrou Marianne.
Segundo Marianne, a inadimplência continua subindo porque a melhora do mercado de trabalho ainda é recente e o efeito da liberação das contas inativas do FGTS já ficou para trás. “O efeito do FGTS foi pontual porque não foi um aumento de renda permanente”, disse a economista.
Por outro lado, a desaceleração da inflação tem efeito limitado, porque ela só representa uma melhora na renda de pessoas empregadas. Marianne destacou ainda que os resultados da Peic divergem dos apontados pelo Banco Central (BC) porque a pesquisa da CNC mede a inadimplência a partir de apenas um dia de atraso e não considera apenas as dívidas bancárias.