As famílias brasileiras iniciaram o ano de 2010 otimistas, propensas ao consumo e com capacidade de endividamento, segundo mostram pesquisas divulgadas hoje pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Os levantamentos, realizados em nível nacional, mostram que 60,2% dos cerca de 18 mil entrevistados estão endividados, mas 9,2% responderam não ter condições de pagar suas dívidas.
Segundo o chefe do departamento de economia da CNC, Carlos Thadeu de Freitas, os números “absolutamente não são preocupantes”. Para ele, “somente 9% dos consumidores dizem não ter condições de pagar dívidas, ou seja, a expectativa de inadimplência é baixa, o que mostra que não se justificam os elevados spreads bancários”. A avaliação é que “ainda há espaço para o consumidor se endividar mais”.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), levantamento inédito divulgado, relativo ao mês de janeiro, mostra que 13,5% dos consumidores disseram estar “muito endividados”, sendo que no grupo dos que recebem até 10 salários mínimos o porcentual sobe para 14,3% e, no conjunto dos que ganham mais de 10 mínimos, é de 8,3%.
Além disso, entre os endividados, 67% apontam o cartão de crédito como principal tipo de dívida, seguido pelos carnês (31,1%), o crédito pessoal (13,5%), financiamento de carro (9,8%) e cheque especial (7,7%). Os tipos de dívida abordados no levantamento incluem cheque pré-datado, cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimo pessoal, prestações de carro e seguros.
Ainda entre os endividados, a parcela da renda familiar mensal comprometida com dívidas é, em média, de 28,4% o que, segundo Thadeu de Freitas, “não é perigoso”.
Segundo ele, nos Estados Unidos, antes do início da crise econômica, a parcela da renda familiar comprometida ultrapassava 100%. A pesquisa mostra também que 17% dos endividados têm mais de 50% da renda familiar mensal voltada para o pagamento das dívidas.
Para Thadeu de Freitas, os dados de endividamento são “bastante satisfatórios”. Ele explica que o porcentual de 60% de endividados no total de entrevistados “é um número compatível com nossas capacidades e não preocupa se houver, como é esperado, crescimento da economia e da massa salarial nos próximos anos”. Segundo ele, a expectativa é de continuidade no aumento do emprego formal no País e “o emprego formal aumenta a capacidade de endividamento do consumidor”.
Outra pesquisa divulgada hoje pela CNC, de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), mostra um índice de 135,5 pontos que, segundo o economista responsável, Fabio Bentes, revela “otimismo em relação ao futuro”. A pesquisa abrange um futuro de curto prazo, com questões que abordam a situação atual e os seis meses a frente, no que diz respeito ao consumo das famílias. O índice abaixo de 100 pontos indica uma percepção de insatisfação, enquanto acima de 100 (com limite de 200 pontos), indica otimismo.
Segundo Bentes, os dados da ICF “mostram que deve haver aceleração no crescimento das vendas do comércio em 2010”. Dos cerca de 18 mil entrevistados, 61,8% acreditam em melhoria profissional para suas famílias nos próximos seis meses, enquanto mais da metade das famílias (54,6%) acreditam em aumento do consumo nesse prazo. Para 67,5% dos entrevistados, o momento atual é favorável para a compra de bens de consumo duráveis.