Menos de um mês depois de pedir mudanças no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de melhorar a situação social no País, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Geraldo Majella Agnelo, voltou a cobrar ontem mudanças radicais na economia. “É preciso mudar no sentido de atender, prioritariamente, os problemas sociais”, disse o cardeal-arcebispo de Salvador, ao manifestar a preocupação com o aumento da miséria.
Salvador – Segundo o cardeal, a situação nunca esteve tão ruim como agora. “Sempre existiu muita pobreza, mas miséria como está hoje, não”, reclamou. Para ele, não há como continuar pedindo à população para apertar mais o cinto: “A condição para uma família sobreviver já está no extremo da necessidade.” O presidente da CNBB preferiu não dar opiniões técnicas sobre o modelo econômico, mas condenou os efeitos negativos: “Há uma preocupação muito grande de premiar o capital e onerar o trabalho.”
Ele enfatizou que, num país como o Brasil, cujo povo “vive no aperto, sem ter o que comer direito, com 29% da população abaixo da linha da pobreza, é triste assistir a esse espetáculo”. Para ele, trata-se de “violência e desrespeito à dignidade do homem”. Questionado sobre as providências que o governo deveria adotar, d. Geraldo foi claro: “Não se preocupar em primeiro lugar com a parte econômica, mas com as necessidades do nosso povo.”
O cardeal não quis fazer coro, no entanto, às declarações contra a permanência do ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Para ele, esse tipo de observação não contribui para a solução dos problemas: “Não sei se essa pressão vai ajudar o governo a solucionar a situação. Penso que não, pois confundir, tumultuar nessa hora não é possível.” Em fevereiro, durante a abertura da Campanha da Fraternidade, em Salvador, o arcebispo havia comparado a situação social do País a uma panela de pressão, prestes a explodir. “Até que o Brasil não é explosivo para revoluções. Em outros países, já teria ocorrido”, disse.
As relações entre a cúpula da CNBB e o governo mudaram bastante em pouco mais de um ano. Na noite de 1.º de maio, Lula foi recebido, entusiasticamente, pelos quase 300 bispos que participavam da 41.ª Assembléia-Geral da CNBB, em Itaici (SP). Foi o primeiro presidente da República a comparecer no exercício do cargo, a uma reunião oficial da entidade, reencontrando ali antigos amigos e simpatizantes.
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