Brasília – O Conselho Monetário Nacional (CMN) discutirá na próxima terça-feira, dia 24, as metas de inflação para 2004 e 2005, que vão orientar o futuro das taxas de juros e do crescimento da economia no governo Lula. As opiniões oficiais se dividem entre o Banco Central (BC), que deve sugerir a manutenção dos 5,5% para o ano que vem e de 4% para 2005, e os que defendem um aumento das metas para evitar sacrifícios. A meta de 8,5% em 2003 está praticamente perdida, pois o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) acumula alta de 6,8% até maio.

“O risco de uma mudança é sinalizar que estamos apenas alterando o alvo e não os instrumentos para atingir a meta. O governo não pode assumir que haverá choques no ano que vem que tornarão a meta inatingível”, diz o economista-chefe do banco CSFB Garantia, Rodrigo Azevedo.

Criado em 1999, o sistema de metas de inflação está com a credibilidade em baixa depois de dois anos seguidos sem cumprir os objetivos fixados. Um integrante do primeiro escalão da equipe econômica se queixa de que, em conversas reservadas, os empresários pedem queda nas taxas de juros e ignoram a sua influência sobre as metas.

Recentemente, até o ex-presidente do BC Armínio Fraga e o atual diretor de Política Econômica, Ilan Goldfajn, engrossaram a discussão ao escrever um artigo mostrando a dificuldade para atingir as metas de inflação com tantos choques.

“As metas de 2003 e 2004 são irrealistas para uma economia que teve variação cambial de 70% nos últimos anos. O problema da inflação está no câmbio, que afeta os preços administrados (gasolina, energia elétrica). O regime de metas precisa de mais flexibilidade”, afirmou o economista Ricardo Carneiro, diretor do Centro de Conjuntura da Unicamp.

Para ele, flexibilidade das metas significa a aceitação de uma inflação mais alta, de até 9% ao ano, e uma margem de erro mais adequada. Hoje, essa margem é de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Mas as metas de 8,5% em 2003 e 5,5% em 2004 são chamadas de ajustadas: não têm uma margem de variação. No ano passado, o CMN aumentou a margem de variação de 2 para 2,5 pontos e criou as metas ajustadas para permitir um combate da inflação por um período de 18 a 24 meses. A idéia é evitar subidas violentas das taxas de juros a curto prazo.

“Talvez seja necessário rever a meta de 8,5% em 2003. A questão está nos preços administrados, que são reajustados por contratos e não são afetados pelos juros do BC”, avaliou o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio de Almeida.

O ex-presidente do BC Ibrahim Eris crê que o governo deve tentar adaptar o sistema de metas. Ele propõe um modelo com cinco trajetórias de inflação e crescimento do PIB, que deixaria implícita uma taxa de juros. O governo escolheria uma das trajetórias. A cada seis meses, a trajetória escolhida poderia ser revista, para evitar prejuízos desnecessários ao crescimento.

O professor da PUC-Rio Dionísio Dias Carneiro também sugeriu, em um estudo, que a meta da política monetária do BC deixe de ser unicamente a inflação e passe a ser o crescimento nominal do Produto Interno Bruto (PIB). Mas isso requer uma inflação baixa. Quanto menor a inflação, maior será o crescimento real do PIB e da renda da população.

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