A estiagem que castigou boa parte do Estado no início do ano e a queda de preços dos produtos no mercado internacional irão refletir no faturamento das cooperativas do Paraná neste ano. A média da queda na produção no campo variou de 10% a 15%. Apesar desse cenário negativo, muitas cooperativas estão apostando em ampliação de linhas de produtos e abertura de novos mercados, como o da soja transgênica.
A Cocamar – Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, conseguiu atingir no primeiro semente apenas 30% do que estava orçado para faturar este ano. O superintendente comercial e industrial da cooperativa, Celso Carlos dos Santos Júnior acredita que a comercialização deverá acontecer agora, apesar das preocupações com a queda gradativa do dólar frente ao real, que está empurrando para baixo a cotação de commodities.
A expectativa da empresa é repetir este ano o faturamento de 2004, que foi de R$ 1,2 bilhão. Para o segundo semestre, Silva Júnior espera que aconteça uma retomada na economia, com melhora na balança comercial, e a venda maior de insumos, cujas transações foram baixas no primeiro semestre.
A Cooperativa Coamo, de Campo Mourão, estima uma queda de 20% no fafturamento este ano – de R$ 4 bilhões para R$ 3,1 bilhões. O diretor presidente, José Aroldo Gallassini ressalta que além do prejuízo com a estiagem, a cooperativa também acumulou dívidas com a inadimplência: dos 19 mil co-operados, 3 mil estão com problemas, o que gerou uma dívida de R$ 100 milhões. ?Estamos negociando com o governo federal os recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para atender esses cooperados?, disse Gallassini. Ele acredita que mesmo com as dívidas, 100% deles voltarão a investir na próxima safra.
Investimentos
A Cooperativa Agrária Mista Entre Rios, de Guarapuava, estima que sofrerá queda no faturamento de R$ 73 milhões para R$ 68 milhões. Aliado a isso, a empresa busca um novo rumo para alguns projetos que não atingiram os resultados esperados, como a produção de flores para a diversificação na propriedade. O diretor financeiro da Agrária, Arnaldo Stock, afirmou que a iniciativa está esbarrando na falta de mercado para o produto, já que a cidade de Holambra (SP) é a líder na produção no País. A estratégia será investir na exportação, e focar a produção em mudas ao invés de plantas de corte.
Apesar desse cenário, as co-operativas já anunciam investimentos para a ampliação, principalmente, do parque industrial. A Cocamar tem hoje 60% do seu faturamento na industrialização de produtos – são 84 itens que vão desde óleo de soja até molhos. Celso Carlos dos Santos Júnior adiantou que a cooperativa quer evoluir em mercados à base de soja, onde já atua com sucos e néctares de frutas. ?Esse mercado cresceu, no último ano, em média 20% no mundo?, falou, ao adiantar que no ano que vem (2006) a cooperativa vai lançar um iogurte à base de soja.
Ocupando o quarto lugar no mercado de margarinas, a Coamo irá dobrar a produção do parque fabril – passando de 120 mil potes/dia para 240 mil potes/dia. Essa produção será uma prestação de serviços para uma marca nacional que ingressará na atividade. Já a Agrária pretende investir R$ 80 milhões para a ampliação da unidade de produção de malte. A pretensão é passar dos atuais 12% para 20% do fornecimento do malte consumido no Brasil.
Cresce o interesse por transgênicos
A campanha do governo do Paraná para tentar impedir o plantio de soja transgênica no Estado não foi suficiente para segurar os agricultores. Estimuladas pela aprovação da Lei de Biossegurança, as cooperativas paranaenses começam a disponibilizar as sementes para a próxima safra. Se o Porto de Paranaguá continuar proibindo o embarque do produto, as co-operativas garantem escoamento através dos portos de São Francisco (SC) e Santos (SP).
Dados do Ministério da Agricultura apontam que o número de ?termos de ajustamento de conduta? assinados por produtores que plantaram soja transgênica no Paraná está crescendo. Na safra de 2003/04 foi de 591, e em 2004/05 alcançou 2.554 termos, um aumento de mais de 300%. A cooperativa Coamo espera plantar 150 mil hectares de área com soja transgênica – sementes da Coodetec (Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola) e Embrapa.
O diretor presidente da Coamo, José Aroldo Galassini, entende que a soja geneticamente modificada veio para valorizar a soja convencional, e ele aposta que nos próximos três anos 95% da soja plantada no Brasil será transgênica. ?Os 15% a mais que deverão ser agregados ao valor da soja convencional não serão suficientes para segurar a transgênica?, disse. No mês de outubro, Galassini deverá ir à Europa para negociar a soja com cerca de 12 clientes.
A Cocamar também irá apostar na transgenia, apesar de estimar que pouco mais de 15% dos 330 mil hectares utilizados para a cultura serão plantados com soja de semente modificada geneticamente. Menos otimista com o novo mercado, a cooperativa Agrária não estimulou o produtor a investir, sendo que apenas 2,3% deles plantarão soja transgênica. O diretor financeiro, Arnaldo Stock, disse que somente agora será possível avaliar o mercado, ?pois antes o plantio era proibido e não tínhamos como negociar?. (RO)