Alto custo de produção, recuo nas cotações, problemas climáticos e doenças estão desestimulando os produtores de uva do Paraná. Na safra 2003/2004, que termina de ser colhida neste mês, a Emater estima que o Estado produza 44,1 mil toneladas de uva fina de mesa e 16 mil toneladas de uva rústica em áreas de 3.676 e 1.785 hectares, respectivamente. A produtividade média da uva de mesa foi de 12 mil toneladas por hectare, ante as 15 mil toneladas/hectare projetadas no início da safra. Na rústica, o rendimento médio ficou em 9 mil toneladas/hectare. Na safra 2001/2002, a produção estadual chegou a 75 mil toneladas de uva de mesa (em 4.446 hectares) e 15.113 toneladas da uva rústica (em 1.855 hectares).
“As geadas tardias de final de agosto e início de setembro reduziram a produtividade”, explica o engenheiro agrônomo Élcio Rampazzo, técnico em fruticultura da Emater/Londrina. Outro fator que colaborou para a redução no plantio foram os baixos preços pagos nas safras anteriores. “Isso gerou desinteresse nos produtores. Muitos não executaram os tratos fitossanitários adequados e erradicaram os pomares”, cita o engenheiro agrônomo Rodrigo Aquino de Paula, técnico da área de fruticultura do Departamento de Economia Rural (Deral).
Com 2.833 produtores de uva de mesa e 3.310 de uva rústica, o Paraná é o quinto maior produtor nacional de uva, atrás de Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. As principais regiões produtoras de uva de mesa são Maringá e Cornélio Procópio, enquanto a plantação de uva rústica se concentra nas regiões de Francisco Beltrão e Ivaiporã. Marialva lidera a produção de uva no Estado, com 750 produtores plantando 1.500 hectares. As variedades predominantes de uvas finas de mesa são: Itália, Rubi, Benitaka e Brasil. De acordo com a Emater, cerca de 60% desse volume é destinado ao consumo de outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. De rústicas (utilizadas também para sucos e vinhos), as mais cultivadas no Paraná são dos tipos Labrusca, Niágara (branca e rosada) e Isabel.
Em Marialva, a viticultura se caracteriza por pequenos produtores. “Como não paga mão-de-obra, a agricultura familiar tem obtido o melhor resultado financeiro. Os produtores maiores, que fazem parcerias, têm reclamado da atividade”, comenta a engenheira agrônoma Silvia Capelari, da Emater/Marialva. Em dezembro, como costuma ocorrer todo ano, em função do Natal, o quilo da Benitaka chegou a R$ 2,30 em Marialva. Agora, os produtores estão recebendo ao redor de R$ 1,60 pela mesma uva. Por causa do frio em setembro, que obrigou os produtores a repodarem os parreirais, a produção de Marialva caiu 25% na safra 2003/2004, passando de 24 mil para 18 mil toneladas.
Dificuldades
As últimas quatro safras tiveram frustração no meio, como chuvas, geadas e ocorrência de doenças, relata Élcio Rampazzo, da Emater/Londrina. “Antes de 2000, a produtividade era 15 a 20% maior, porque não havia esses problemas”. Segundo o agrônomo, apesar de a área plantada estar estável, há tendência de redução na produção de uva fina, já que aumentou o número de produtores em outras regiões do País, como Nordeste, Minas Gerais e norte de São Paulo. No entanto, ele ressalta que a produção de uva rústica deve crescer. “Ouvimos falar de plantio de novas áreas no Sudoeste (Pato Branco e Francisco Beltrão), visando principalmente a indústria de suco e vinho.”
A expectativa positiva em relação à uva rústica se deve à lucratividade. “A uva fina de mesa no Paraná hoje não é atrativa pelo alto custo e pelos preços baixos na hora da venda. Já a uva rústica tem menor custo de produção e quando o preço está ruim no mercado, os produtores vendem para a indústria”, explica Élcio. Para se ter uma idéia, um hectare de uva fina emprega média de 2,5 pessoas, enquanto um hectare de uva rústica gera um emprego. “Como os preços das duas últimas safras não foram satisfatórios e há muita oferta, o custo de produção aumenta e o lucro diminui. Muitos saem da atividade, vão plantar soja, porque a rentabilidade está muito melhor”, conta o agrônomo.
O custo de produção da uva fina de mesa varia de R$ 6 mil a R$ 8 mil por hectare, enquanto o da uva rústica fica entre R$ 4 mil e R$ 5 mil por hectare. Isso representa custo entre R$ 0,68 e R$ 0,75 por quilo. “Quando começa a safra, você consegue vender acima de R$ 1, mas no final, a média fica entre R$ 0,80 e R$ 0,85”. Por causa dessas dificuldades operacionais, Élcio prevê que nos próximos três anos os níveis de produção de uva no Paraná continuem no mesmo patamar. “Mesmo que ocorra esse acréscimo para industrialização, não é significativo”, pondera.