Batata foi a vilã |
Má notícia para os consumidores curitibanos: interrompendo quatro meses de queda, a variação da cesta básica na cidade apresentou aumento de 2,69%. O custo dos produtos essenciais em janeiro, divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), foi de R$ 160,10. O aumento em reais, se comparado a dezembro, foi de R$ 5,34. "Não era esperado um aumento. De setembro a dezembro a cesta básica tinha acumulado queda de 9,33%", diz Sandro Silva, economista do Dieese.
A batata foi o produto que teve o maior aumento, de 21,70%. Segundo Silva, a alta variação do item foi ocasionada por fatores climáticos, principalmente a chuva. "Janeiro é normalmente o mês mais chuvoso do ano, o que acaba afetando diretamente os produtos mais frágeis", diz. Ele afirma que justamente esses produtos se encontram agora em fase de colheita. "As chuvas dificultam o escoamento e favorecem o aparecimento de pragas, aumentando o custo de produção."
Em janeiro de 2004, outra vez devido a problemas climáticos, Curitiba apresentou variação positiva, mas foi o menor índice entre as 16 capitais pesquisadas pelo Dieese. Em 2005, foi a que teve o quinto maior aumento. "As cidades apresentaram índices muito heterogêneos em janeiro, com grande diferença nos estados", comenta Paulo Roberto Fier, coordenador sindical do Die-ese. Ele explica que isso se deve a chuvas em alguns lugares, e a seca em outros.
Reflexo disso pode ser observado nas cidades com as cestas básicas mais caras, havendo uma inversão no ranking. "Porto Alegre foi a cidade que teve a maior baixa entre todas as capitais pesquisadas (-3,40%), o que a tirou da incômoda colocação de cidade com a cesta básica mais cara do País", diz Silva. Na capital gaúcha, a cesta custa R$ 168,80. Ela acabou ultrapassada por São Paulo (R$ 172,87) e por Brasília (R$ 170,62). No quarto lugar ficou o Rio de Janeiro, onde o valor da cesta é R$ 164,81.
Itens
Além da batata, os maiores aumentos em Curitiba foram observados na manteiga, na banana, no café e na carne, que já vem acumulando aumentos desde o ano passado. Segundo a pesquisa do Dieese, o item teve a variação alta em todas as capitais. "Havia expectativa de que a carne ficasse mais cara já em dezembro, o que não ocorreu. Agora, além desse aumento acumulado, houve pressão pela menor demanda no período de férias", afirma Silva. "Como vendem menos, os mercados aumentam o preço para equilibrar o lucro. Esse aumento na carne só é observado no varejo. No atacado, o preço até diminuiu."
No caso da manteiga, os técnicos do Dieese não souberam identificar o motivo do aumento. A banana também foi influenciada por questões climáticas. Já o café é outro produto que vem sofrendo aumentos freqüentes. "No ano passado, a safra foi reduzida em 33%, além de ter ocorrido um aumento na cotação internacional", afirma Silva. Ele alerta que há possibilidade de quebra de safra em 2005, o que pode alavancar ainda mais o preço do produto.
Pelo lado das quedas, o tomate foi o grande destaque. O preço do produto já cai desde agosto, quando custava R$ 2,57 o quilo. Agora, em janeiro, custa R$ 1,03. "A queda nesses meses chega a quase 60%, já que o produto estava supervalorizado. Em fevereiro, o clima pode ser vilão mais uma vez e elevar o preço do produto", conta o economista do Dieese.
A farinha de trigo e o óleo de soja tiveram baixa em função da baixa cotação do câmbio e da baixa cotação dos produtos no mercado externo.
Mínimo deveria ser de R$ 1.452,28
Segundo o Dieese, o custo da ração alimentar essencial mínima para uma família curitibana (1 casal e 2 crianças), foi de R$ 480,30, sendo necessário 1,85 salário mínimo somente para satisfazer as necessidades da família. Se o salário mínimo atendesse todas as necessidades previstas na Constituição (moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social) o valor do mínimo calculado pelo órgão teria que ser de R$ 1.452,28.
Mesmo com o aumento da cesta básica, o comprometimento do salário mínimo com a alimentação (61,58% do salário bruto) é mais baixa que a média do ano de 2004 (66,90%). Esse valor é 0,29% menor do que em janeiro de 2004, quando a cesta básica custava R$ 160,56. "O ganho ocorreu porque a cesta básica ficou estável e o salário mínimo teve um aumento no ano passado", explica Fier.
Segundo os técnicos, em fevereiro, é possível que haja novo aumento na cesta básica em Curitiba, sendo que o produto determinante deve ser mais uma vez a carne. "O aumento na cesta é indicativa que os alimentos devem pressionar a inflação em janeiro e fevereiro", diz Silva. (DD)
Mínimo atinge US$ 100, mas não cobre necessidades
Pela primeira vez no governo Lula, o salário mínimo atingiu US$ 100 por causa da valorização do real. Mas esse valor teria de ser quase seis vezes maior para garantir uma vida digna ao trabalhador brasileiro, segundo estimativa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos).
Ontem, a moeda norte-americana fechou na casa de R$ 2,60 pela primeira vez desde junho de 2002. A partir do próximo mês de maio, o salário mínimo vai subir de R$ 260 para R$ 300.
O mínimo de US$ 100 era uma bandeira eleitoral do PT, partido do presidente Lula, e de políticos como o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Se o dólar continuar em queda, o mínimo vai superar essa marca. Há bancos que apostam que a moeda norte-americana pode testar uma cotação mínima de R$ 2,50 nas próximas semanas.
Mas a cifra de US$ 100 já não significa muito para o trabalhador. Segundo o Dieese, o salário mínimo do trabalhador brasileiro deveria ter sido de R$ 1.452,28 em janeiro (quase US$ 560).
A estimativa do Dieese considera o maior valor apurado para a cesta básica no mês e o preceito constitucional determinando que o salário mínimo deve ser suficiente para a manutenção de um trabalhador e de sua família, suprindo suas necessidades com alimentação, moradia, educação, saúde, transporte, vestuário, higiene, lazer e previdência.
Valoriza
O real é a moeda que acumula a maior valorização frente ao dólar nos últimos seis meses. O levantamento foi realizado pela agência norte-americana Bloomberg.
O ranking considerou as 16 principais moedas do mundo: além do real, peso mexicano, coroa dinamarquesa, euro, dólar canadense, coroa sueca, libra esterlina, franco suíço, dólar de Taiwan, rand sul-africano, dólar neozelandês, coroa norueguesa, dólar de Cingapura, dólar australiano, won sul-coreano e iene japonês.
O dólar no Brasil segue a tendência internacional da cotação. No mundo, o dólar perde valor para outras moedas fortes como euro, iene e libra. A depreciação do dólar interessa aos EUA, pois estimula suas exportações e inibe as importações. Ou seja, fica mais barato comprar produtos americanos. A maior economia do planeta precisa atrair capital estrangeiro para reduzir seu déficit externo.