Os ciclos de negociação dos fundos que investem em participações de companhias no Brasil, os private equity, estão mais longos, com o nível de detalhamento cada vez mais profundo e as análises mais demoradas.

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O aumento da volatilidade dos mercados e a falta de clareza sobre o ritmo de recuperação da economia brasileira no próximo ano têm prolongado o processo de tomada de decisão para o investimento. A expectativa daqueles que estão na ponta compradora é de que os preços das companhias possam estar mais baixos no médio prazo.

No primeiro semestre, os fundos de private equity e venture capital fecharam 74 operações de aquisição de empresas no Brasil, abaixo das 115 transações concluídas nos seis primeiros meses do ano passado, de acordo com dados do TTR, consultoria especializada em análise de dados de mercado.

Embora a percepção seja de que o melhor é aguardar antes de fechar o negócio, o apetite dos grandes fundos pelo Brasil continua. O diretor da área de M&A (fusões e aquisições) do Bradesco BBI, Alessandro Farkuh, afirma que a cautela em relação ao panorama de crescimento brasileiro é uma das razões que torna os ciclos mais longos, mas destacou que esse também é um efeito de maior maturidade do mercado.

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“Os fundos que têm um histórico bem-sucedido no Brasil sabem que o País tem ciclos de instabilidade e eles conseguem comprar nos momentos propícios, pagando um valuation atrativo e com um olhar de longo prazo. São esses que não saem do País nas turbulências”, analisa Farkuh.

O diretor do BBI caracteriza as negociações hoje como muito mais duras, demandando um esforço maior para a concretização. Algumas operações, conta, tiveram um prazo de negociação superior a um ano. “As transações têm demandado uma carga maior de dedicação”, diz. Segundo o executivo, nota-se que alguns players estão preferindo ganhar tempo para terem maior clareza sobre 2015. A lógica, explica, é que os fundos têm trabalhado para maximizar o retorno.

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O sócio da área empresarial, especializado em private equity, do escritório Pinheiro Neto, Henry Sztutman, frisa que naquelas transações com menor competição, ou seja, em que há apenas um fundo “na jogada”, a tendência tem sido de espera para fechar o negócio. “Os fundos de private equity são mais cautelosos em cenário pré-eleitoral”, afirma. Sztutman destaca que a cautela por parte do fundo faz com que os “preços sejam calibrados”.

O gestor e sócio da Camargue Asset, Fernando Hormain, acredita que os gestores de fora do Brasil seguem “ávidos” por oportunidades, mas, por outro lado, têm a percepção de que o “fundo do poço ainda não chegou’. Por conta disso, destaca Hormain, o estrangeiro que ainda não trouxe capital para o Brasil irá aguardar, na expectativa de queda de preços, para entrada nas companhias.

Como parte das negociações entre a ponta compradora e vendedora é baseada em expectativas em relação ao andamento da economia de onde o negócio está inserido, as conversas estão mais difíceis. “Hoje existem muitas incertezas em relação aos rumos da economia, principalmente pelo contexto político, e está difícil se ter uma convergência de expectativas”, afirma o sócio do fundo Spectra Investments, Renato Abissamra.

Por outro lado, destaca, o cenário macroeconômico mais desafiador abre espaço para investimentos dos fundos de private equity, já que os empréstimos bancários se tornam mais restritos. “A visão global é de que o Brasil passará por ajustes nos próximos dois a três anos, mas se um fundo tem uma boa oportunidade de investimentos ele pegará toda a retomada da economia”, afirma o sócio da Spectra.

Diego Báez, sócio da consultoria Heartman House, lembra que, apesar do momento se mostrar difícil, os fundamentos da economia brasileira não foram desestruturados e que, no momento, o ambiente político provoca apenas uma desaceleração dos investimentos. “O número de investidores não está diminuindo, eles estão olhando com mais cautela”, disse, admitindo que as negociações estão mais longas e as análises mais profundas.

Mas não é em todos os setores que as transações estão mais lentas. O diretor de private equity da DLM Invista – focada em tecnologia -, Paulo Sérgio Caputo, afirma que nessa área, o crescimento é mais independente do andamento pontual da economia. “Já fizemos três investimentos neste ano e esperamos realizar mais um. Além disso temos um pipeline bastante forte”, disse.

No outro sentido, Farkuh, do BBI, destaca que, neste momento, empresas ligadas ao consumo cíclico (consumo discricionário) estão sofrendo mais, já que há maior sensibilidade aos ciclos econômicos.