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Chope artesanal ganha espaço no mercado

Não é de hoje que o setor cervejeiro mundial tem no Brasil um dos maiores mercados consumidores. No Paraná a história se repete, e o potencial daqui é tão significativo que a AmBev (detentora de 70% do mercado nacional de cerveja), Heineken e Schincariol pleiteiam desde o governo anterior que o Estado baixe a alíquota do ICMS, hoje de 29,5%, para investirem aqui. Isso porque a produção atual do Estado atende menos de 40% da demanda paranaense.

Daniel Caron
Produção artesanal de chope é aberta a visitação em Santa Felicidade.

Contudo, a redução do imposto para um setor que disputa a preferência nas gôndolas por centavos é só mais uma das estratégias. Outra ação bem usual, passível de questionamentos legais, é a fidelização de pontos de vendas.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reconhece que a prática é bem comum e divide opiniões entre os proprietários de estabelecimentos. E é justamente por não agradar a todos que uma cervejaria genuinamente curitibana, a Gaudenbier, há um ano em meio vem conquistando fornecedores e consumidores finais, a ponto de apresentar um crescimento de 70% nas vendas ao longo desse período.

O sucesso está calçado na alta qualidade do produto, garantia de entrega e de agilidade na reposição dos estoques dos clientes e ausência de qualquer cláusula de exclusividades no contrato com a marca.

“Por uma série de princípios, somos contra exclusividade, até mesmo com os nossos produtos”, afirma categoricamente um dos sócios da cervejaria, Ronaldo Pinto Flor.

Foram essas convicções que levaram ele e o empresário Luciano José do Reis, fundador da cervejaria, a formarem o grupo Gauden Flor, em meados de 2009, a fim de investirem no acirrado mercado cervejeiro.

“A decisão veio num momento de vida em que eu e o meu sócio optamos trabalhar em algo que, acima de tudo, gostássemos muito. O apreço ao produto nos ajudou a encontrar uma oportunidade, o da diferenciação na qualidade do produto e na relação com os fornecedores. E isso tem nos garantido um espaço promissor em meio a um setor dominado por empresas gigantescas”, comemora Ronaldo.

Estrutura

Para acompanhar o crescimento nas vendas, a cervejaria adquiriu novos tanques e dobrou a capacidade de produção mas, por estratégia, não revela sua capacidade atual.

Com o chope, o grupo já atende estabelecimentos de Curitiba, Paranaguá e Florianópolis. “Como é uma bebida viva, devido à levedura, a durabilidade é de até sete dias. Tanto que abastecemos o caminhão para Florianópolis no dia em que ele parte para garantir mais tempo ao cliente”, conta Ronaldo. Aliás, para os clientes de Curitiba, eles trabalham com um prazo de quatro horas entre pedido e entrega. “Não deixamos faltar chope para os nossos clientes, que se livram da necessidade de estocar enormes barris. Mesmo fora do horário do expediente, os clientes têm acesso ao celular dos nossos funcionários que garantem a entrega”, destaca.

Devido à limitação geográfica de atendimento que o chope impõe, pois não passa por processo de pasteurização, o grupo vai ampliar o alcance de sua marca com uma linha de cervejas artesanais, que consumiu um investimento da ordem de R$ 500 mil.

O lançamento está previsto para o segundo semestre deste ano e contará com vários tipos de cerveja. “Assim como no chope, nossa cerveja seguirá a Lei da Pureza criada ainda no Império Austro-Húngaro, que determina o emprego de apenas quatro elementos na bebida: malte, lúpulo, levedura e água. Aliás, nossa,s bebidas são puro malte, a proporção de lúpulo é de algumas gramas para cada mil litros”, atesta. Outro diferencial da marca está na água utilizada cuja fonte é o Aqüífero Embasamento Cristalino da Bacia Hidrográfica do Iguaçu.

Clientes têm que ter liberdade de escolha

As grandes ações de marketing promovidas pelas principais marcas cervejeiras do Brasil para cooptar novos pontos de venda são comuns em Curitiba. “A exclusividade é uma prática comum e as bonificações oferecidas vão desde produtos até reformas nos bares e restaurantes. De certa forma isso ajuda muitos empresários do setor a expandirem seus negócios”, avalia o gerente comercial da Abrasel, Neuton Pinho.

“Por outro lado, quem se submete a esses contratos de exclusividade, acaba ficando com alguns produtos que não são os preferidos pelos clientes. Aliás, o chope mais consumido no País tem na sua cartela de produtos um refrigerante que não é o top de linha. Assim como a principal marca de refrigerante traz o ônus do chope, que não está entre os mais pedidos”, revela Pinho.

Atentos as essas restrições de contratos, alguns donos de bares e restaurantes têm resistido. “Ainda é um movimento insignificante, mas há uma parcela de estabelecimentos na cidade que estão preservando o direito de diversificar os tipos de bebidas oferecidas e, por isso, estão fomentando o mercado de cervejas artesanais”, acredita Pinho. “No País, as cervejarias artesanais já conquistaram 4% do mercado”, informa o presidente do Sindicerv, Gilmar Viana.

Reconhecimento

O empresário Rogério Maiczuk, sócio-proprietário do Quermesse Petiscos de Comidas Caseiras, diz que os consumidores reconhecem esse tipo de cuidado do estabelecimentos.

“Tenho muitos clientes que elogiam nossa opção em atendê-los com uma gama variada de produtos. Apesar da vantagem financeira oferecida pelas grandes marcas, prefiro respeitar a diversidade de preferências do nosso público, pois isso traz benefícios de longo prazo”, ensina.

Segundo Maickuk, só em cervejas, ele trabalha com mais de 20 marcas diferentes. “Trabalho com um público das classes A e B e que se importam com a qualidade do que estão bebendo e, principalmente, com a liberdade em poder escolher”.

O que as fabricantes chamam de políticas de bonificação aos clientes que revendem suas marcas, a legislação brasileira põe em xeque por meio da Lei Antitruste n.º 8884/1994, que visa salvaguardar a livre concorrência.

“O Cade já multou a AmBev, mesmo assim há uma linha tênue entre bonificação e bloqueio do acesso de novas empresas ao mercado”, pondera o advogado especialista em direito empresarial, Rafael Zanotelli. “Em geral, as ações que contestam essa prática são movidas por empresas concorrentes que se sentem prejudicadas, porém, as grandes marcas seguem com esse tipo de política”, reconhece.

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