O presidente da França, Jacques Chirac, reafirmou ontem, através de uma videoconferência transmitida em Davos, sua afinidade com os ideais do presidente Lula, ao defender uma globalização justa e propor um imposto que financie a luta contra a aids – uma taxa semelhante à sugerida por Lula em 2003 para o combate à fome. Lula desembarca amanhã na estação de esqui dos Alpes suíços apoiado pelo discurso de Chirac, e defendendo o objetivo de pôr em sintonia as idéias dos liberais de Davos e daqueles que participam do Fórum Social Mundial de Porto Alegre (Brasil).
"Não se trata de pedir às pessoas que deixem de ser o que são, mas de estabelecer laços entre comunidades unidas por um destino indivisível", assegurou o presidente brasileiro, em artigo publicado nesta quarta-feira no vespertino francês Le Monde.
Na abertura do Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês) de Davos, Chirac deixou claro que a França é uma das nações industrializadas com maior sensibilidade diante das carências dos países em desenvolvimento e recordou que a comunidade internacional "está fracassando" ante os grandes desafios, como a Aids.
Chirac, que iria a Davos pela primeira vez, mas cancelou sua viagem devido às condições meteorológicas, lançou a proposta, através de uma videoconferência, da criação de um imposto internacional que financie a luta contra a aids. Através da tela gigante instalada no Palácio dos Congressos, Chirac pediu à elite mundial que assuma "sua responsabilidade como cidadãos", "como líderes econômicos" e por "dever, enquanto homens e mulheres".
Ele mencionou o direito dos "jovens da América Latina, Ásia e África" a um futuro melhor e chamou atenção para o "risco de uma revolta", caso essa possibilidade lhes for negada.
Ao lançar sua proposta de imposto mundial para financiar a luta contra a aids, Chirac mencionou quatro possíveis alternativas, entre elas "uma contribuição sobre as transações internacionais" e uma "pequena taxação" de, por exemplo, um dólar "sobre as três bilhões de passagens aéreas vendidas anualmente no mundo".
A idéia tem o mesmo espírito de outra proposta apresentada por Lula na edição de 2003 de Davos, que consistia na criação de um "fundo internacional para a luta contra a miséria e a fome nos países do terceiro mundo". Os Estados Unidos rejeitam qualquer imposto mundial para este tipo de iniciativa, especialmente oriundo de transações financeiras.