Chineses trocam soja brasileira por Argentina

A importadora chinesa Sunrise disse ontem que teria “enorme prejuízo” se não cancelasse a compra de 2 milhões de toneladas de soja do Brasil em razão de atrasos nos embarques e negou que a decisão seja uma estratégia para renegociar os preços do produto.

“Não adianta nada ter um preço bom se a soja não pode ser entregue. Se a situação do transporte melhorar, nós podemos reconsiderar e voltar a comprar”, declarou ao Estado o gerente de grãos e óleos da empresa, Shao Guorui. Segundo ele, a Sunrise estuda a possibilidade de compensar o cancelamento dos contratos com a aquisição de soja na Argentina a partir de abril.

Shao disse que a empresa deveria ter recebido seis navios em fevereiro e seis em março, mas a chegada dos carregamentos foi adiada para abril, por causa do apagão logístico que atinge os portos brasileiros.

Caminhões carregados de soja estão parados em filas intermináveis nas estradas de acesso ao porto de Santos, o principal canal de escoamento, responsável por um terço dos embarques. Sem a possibilidade de serem carregados, os navios não podem atracar nos terminais.

Diante dos atrasos, a Sunrise cancelou a carga de dez navios que já deveriam ter chegado e de outros 23 que deveriam atracar em portos chineses nos próximos meses. “Não há nem informação de quando os navios estarão prontos”, observou.

Preços

Shao afirmou que o preço atual da soja na China é maior que o do produto comprado no Brasil, em razão de limitações na oferta. Mas, com os atrasos, os carregamentos só chegariam em abril ou maio, quando as cotações terão se reduzido em consequência da entrada de novas safras no mercado.

A diferença entre o preço atual e o de chegada do produto na China é a origem do “enorme prejuízo” previsto pela Sunrise. “O preço na China agora está alto, porque o suprimento é pequeno, mas em abril e maio, quando uma grande quantidade de soja entra no mercado chinês, o preço vai cair”, justificou.

A empresa é uma das maiores importadoras de soja do país e compra cerca de 8 milhões de toneladas do produto por ano, das quais 3 milhões vêm do Brasil. O Brasil é o principal exportador de soja para a China, que é de longe o maior consumidor mundial do produto. No ano passado, os embarques para o país asiático representaram quase 70% dos US$ 17,5 bilhões de exportações nacionais do produto.

O ministro-chefe da Secretaria de Portos, Leônidas Cristino, responsabilizou ontem o clima e a produtividade do campo pelo apagão que toma conta do porto de Santos. “Temos de fazer um trabalho científico para diminuir as dificuldades”, disse ao ser questionado sobre o que pode ser feito no curto prazo para amenizar o gargalo logístico.”O problema mais grave hoje é o aumento da produção como a quantidade de chuva que está caindo. Com essa chuva, não tem condições de movimentar granel.”

O programa de concessão de ferrovias e rodovias e a Medida Provisória 595, que abre espaço para mais investimentos privados em portos, são respostas do governo para as dificuldades de escoamento da produção. São, porém, iniciativas lançadas na metade da administração da presidente Dilma Rousseff, que até o momento estão no papel. Para a atual safra, o governo mal tem respostas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna