O setor têxtil pode perder aproximadamente 200 mil postos de trabalho até o final do ano, em função da perda de competitividade frente à expansão do mercado chinês no Brasil. A projeção é da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), que representa o setor.
Atualmente, 25% do total de confecções comercializadas no País são importadas, principalmente da China. Essa competição com mercadorias chinesas que chegam ao País, reclamação constante dos mais diversos setores industriais brasileiros, foi o principal assunto de discussão da primeira audiência pública itinerante da Frente Parlamentar da Indústria Têxtil, realizada nesta terça-feira (5), em Curitiba.
Nos últimos sete anos, o crescimento das importações no setor chegou a 427%. A alta carga tributária e o custo de capital elevado também são citados como principais entraves ao desenvolvimento da indústria têxtil pelo presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho. “Temos um mercado interno atrativo e não podemos entregá-lo a terceiros ingenuamente. A Abit não é contra importação, somos sim favoráveis a condições igualitárias de competição”, defende Diniz Filho.
As reclamações são feitas mesmo com o aumento do consumo de têxteis no Brasil previsto para os próximos anos que, em 2014, pode chegar a 19,8 quilos per capita por ano. “O setor pode bombar, mas não se continuar como está. A importação do vestuário mata toda a cadeia têxtil envolvida”, analisa o presidente.
Apesar das dificuldades, o setor nacional tem conseguido crescer nos últimos anos, de acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem no Paraná (Sinditêxtil), Marcelo Surek. “Temos sofrido muito e poderíamos ter um crescimento muito maior”, declara, referindo-se aos problemas de competição com mercados como o chinês.
O crescimento não é suficiente para expansão do setor, na avaliação do presidente do Sindicato dos Industriais de Cianorte, Wilso Becker. “Não há investimentos hoje em novos maquinários”, exemplifica.
O presidente da Abit cita ainda a importância da geração de empregos no País que, no Paraná, engloba 90 mil postos de trabalho em mais de 5 mil indústrias, entre empregos diretos e indiretos, segundo dados do Conselho do Vestuário da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). “Nosso setor pode ser emancipatório para pessoas que dependem de programas como o Bolsa Família e o Fome Zero, mas não temos muito tempo para esperar. Precisamos criar um modelo trabalhista que desonere a indústria”, argumenta.
Garantias trabalhistas
Atentos às reivindicações dos industriais para mudanças no modelo trabalhista brasileiro, os trabalhadores do setor argumentam que é preciso maior valorização da classe, fim da informalidade e melhores salários, além da necessária equiparação de salários entre homens e mulheres.
No setor têxtil, o salário médio pago, de acordo com a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Estado do Paraná (Fetiep), é de R$ 1.121,45, enquanto no setor do vestuário o salário médio é de R$ 799,56.
O comércio desleal com as indústrias estrangeiras, frequentemente citado pelas indústrias nacionais, sofre ressalvas da Fetiep. “É preciso assinalar que existe deslealdade entre os próprios empresários, por exemplo, os que possuem empresas e não pagam os direitos trabalhistas ou empresários brasileiros que oportunisticamente foram montar empresas na China”, argumenta o presidente da Fetiep, Luiz Gin, em carta aberta.