São Paulo – Um dos grandes temores da indústria têxtil brasileira pode se concretizar, caso o acordo para criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) atrase. Um estudo da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (Usitc), realizado a pedido da USTR (representação comercial da Casa Branca), mostra que a China dominará o mercado têxtil norte-americano a partir de 2005, quando expira o Acordo Têxtil firmado na Rodada Uruguai do Gatt (1986-1994). Pelo acordo, os países importadores podiam estabelecer cotas de compras externas durante dez anos. Com o fim do acordo, a importação será livre.
Para a indústria têxtil brasileira, a manutenção ou a antecipação do cronograma da Alca, prevista para entrar em vigor em 2005, permitiria que as empresas brasileiras conquistassem fatias do mercado norte-americano antes da projetada enxurrada de produtos chineses.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Paulo Skaf, lembra que, só para camisetas de algodão, o mercado dos Estados Unidos é de 3,5 bilhões de unidades por ano. Em 2002, a cota brasileira desse produto foi de apenas 24 milhões de unidades, o que demonstra que há muito espaço para o produto brasileiro crescer.
Segundo o relatório da Usitc, a China vai se beneficiar mais do que os concorrentes, no mercado norte-americano, por conta de sua habilidade em fazer praticamente qualquer tipo de produto têxtil e de vestuário em qualquer nível de qualidade e por preços competitivos. Mas o estudo ressalva que é difícil avaliar a velocidade com que as importações a partir da China vão crescer, até porque os EUA e outros países importadores podem utilizar um mecanismo de salvaguarda que faz parte do acordo de entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). No ano passado, o governo George W. Bush impôs outras cotas a produtos chineses por conta desse instrumento.
O fato é que o crescente papel da China no mercado têxtil dos EUA deve provocar uma completa transformação na base de fornecedores para os norte-americanos, segundo o instituto. Índia, Paquistão e Bangladesh, grandes fornecedores para os EUA, serão as nações mais afetadas pela concorrência chinesa.