A China dá sinais de que está disposta a fazer uma barganha estratégica com o Brasil: não irá pressionar por uma liberalização dos mercados para seus produtos industrializados e em troca, espera não ser pressionada a abrir seu mercado para as exportações agrícolas. Hoje, durante a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pequim saiu de seu tradicional silêncio para apoiar plenamente as reivindicações dos países emergentes como Brasil, Argentina e África do Sul, que deixaram claro que não aceitariam cortes de 60% em suas tarifas de importação de bens industriais, como pede a OMC.
Hoje, o diretor da OMC, Pascal Lamy, concluiu as reuniões da entidade com a promessa apenas de que o processo seria retomado em setembro, quando novas propostas de acordo devem ser apresentadas. A organização não conseguiu aprovar suas propostas apresentadas na semana passada como base das negociações, para a frustração dos países ricos.
Na agricultura, a OMC sugeriu cortes de subsídios nos Estados Unidos e de tarifas de importação na Europa, pontos aceitos pelos emergentes. Mas no setor industrial, a proposta rachou os países em desenvolvimento e gerou uma nuvem de incerteza sobre a capacidade da OMC de concluir a Rodada. México, Costa Rica, Chile e outras economias defenderam a adoção da proposta como base do debate. Mas Brasil, Argentina, Índia e África do Sul costuraram uma aliança para impedir que isso ocorresse. Para esses países, o corte máximo que será aceito será de 50%.
Surpresa
Mas a grande surpresa veio de Pequim. A China saiu ontem em defesa da posição do Brasil. Muitos em Genebra acreditam que a China será a grande beneficiada com o acordo na OMC. O país já é o segundo maior exportador do mundo, superando os americanos, e está baseando suas vendas no setor industrial. Teoricamente, portanto, seriam os primeiros a defender uma liberalização do setor para ganhar novos acessos.
Pequim se limitou a pedir cortes mais profundos da parte dos países ricos. Para negociadores, a posição da China de aceitar que países emergentes não abram seus mercados de forma tão drástica seria um sinal de que querem recompensas. Uma delas seria no setor agrícola. Os chineses temem que uma abertura de seu mercado acabe afetando a produção no campo, onde vivem 900 milhões de pessoas. A preocupação é de que um eventual êxodo rural causado pela inabilidade de enfrentar a concorrência externa acabe desestabilizando politicamente a China.
A outra recompensa seria a autorização para sejam isentos de uma nova abertura de seus mercados para bens industriais por mais dez anos. A OMC quer limitar esse prazo em dois anos. "Brasil e China tem muito a cooperar", afirmou o embaixador da China na OMC, Sun Zhenyu.
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