China quer comprar soja direto dos produtores do Paraná

A partir da próxima safra, produtores de soja do Paraná deverão estar vendendo soja diretamente à China, sem a intermediação de tradings. A intenção foi anunciada ontem pelo presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, que está acompanhando a missão chinesa formada por 12 executivos de grandes empresas de soja ao Brasil.

A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) endossou a idéia e, segundo o superintendente adjunto Nelson Costa, a venda direta pode acontecer de forma gradual, já a partir da próxima safra. Representantes da Ocepar manifestaram interesse em visitar a China em setembro ou outubro próximo. “O objetivo da viagem será estreitar relações comerciais na exportação da soja e importação de fertilizantes”, afirmou Nelson Costa. Segundo ele, a Ocepar se manifestou favorável à idéia de vender soja diretamente à China, sem intermediadores.

De acordo com Costa, o risco da venda direta existe como em qualquer outra operação. “Quando se faz a comercialização via trading, o risco no transporte internacional é de terceiros. Na venda direta, o risco é do embarcador e do produtor”, diz. “Mas também há vantagens: o comprador tem a garantia da qualidade da matéria-prima, enquanto o fornecedor tem cliente assegurado”, pondera. Segundo ele, além da redução de custos, outra importante vantagem é a criação “de um canal próprio de comercialização”.

Expectativa

Segundo Charles Tang, é grande a expectativa de acordos entre a China e a Ocepar. “Não acho que o objetivo da Ocepar seja tirar de imediato as tradings. Não vai substituir de um minuto para outro”, afirmou Tang. Para ele, a intenção não é criar um cenário de batalha, com as tradings de um lado e a China de outro. Mas afirmou que a China está disposta a fornecer aos produtores de soja paranaenses insumos, defensivos agrícolas e financiamento. Tang não quis falar sobre quanto seria a redução de custos com a compra direta. “As tradings lucram não só com a corretagem em si, mas especialmente na Bolsa (de Chicago), com defensivos, insumos, financiamentos. Aí sim está o diferencial”, afirmou.

Tang afirmou que a comitiva chinesa – formada por sete presidentes e cinco gerentes-gerais de grandes empresas de soja e esmagadoras de soja da região de Henan – está analisando a proposta de adquirir ou construir silos no Porto de Paranaguá. “Na reunião com Requião (governador Roberto Requião), ele disse que o porto comprou 300 mil metros quadrados, aumentando a capacidade portuária.”

O fato de o Porto de Paranaguá não permitir a entrada de soja transgênica pode ser benéfico na relação Brasil-China. “A China não proíbe a entrada de soja transgênica, mas dá preferência à soja convencional”, afirmou. Segundo ele, a idéia é aumentar a compra de soja brasileira e reduzir a argentina e norte-americana. Só na província de Henan, conta, cerca 3 milhões de toneladas de soja são esmagadas por ano – quase 2 milhões são importadas, sendo metade dos Estados Unidos e outra metade da América do Sul, basicamente Argentina e Brasil. “No Brasil, os chineses estão se empenhando para aumentar as compras. Achamos que a qualidade da soja brasileira seja melhor.”

Segundo Tang, Paraná e China têm grande potencial de relação comercial, não só de soja, mas carne, madeira, aves, entre outros. Mas ele não quis informar o montante que a China estaria disposta a investir no Paraná ou mesmo no Brasil. “A China tem US$ 550 bilhões em reservas de divisas junto a Hong Kong”, afirmou apenas, referindo-se à quantia de que dispõe o País para investimentos.

1,3 bilhão de consumidores

A China consumiu no ano passado 55% da produção mundial de cimento e 35% da produção de aço. Em 2001, importou do Brasil 3,160 milhões de toneladas de soja e, no ano passado, cerca de 8 milhões – quase 50% do montante importado do mundo todo. Desse total, quase um terço saiu do Paraná. Segundo Charles Tang, o país tem potencial para importar 30 milhões de toneladas de soja do mundo todo nos próximos dois a três anos. “Só Henan – província de onde se origina a comitiva chinesa que está no Paraná – há cerca de 100 milhões de habitantes”, afirmou Tang. A população total da China é de 1,3 bilhão de habitantes. “É um estado gigantesco de consumo.”

Relação recente

A relação comercial Brasil-China é bastante recente. Segundo Tang, em 1999, o comércio bilateral foi de US$ 1,5 bilhão – mesmo valor praticado em 1985. Em 2000, o comércio foi de US$ 2,3 bilhões; passou para US$ 3,2 bi um ano depois – com superávit para o Brasil de US$ 600 milhões. Em 2002, foram US$ 4,1 bi – com superávit brasileiro de US$ 1 bi – e, no ano passado, US$ 8 bi, com superávit brasileiro de US$ 2,3 bilhões. Segundo Tang, só no primeiro trimestre deste ano, o Brasil já conseguiu superávit de US$ 1 bilhão no comércio com a China. Entre os produtos brasileiros que já estão nas prateleiras dos mercados chineses, Tang cita o Café Pelé, Sucos Del Vale, leite longa vida, própolis, entre outros.

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