O Ministério da Quarentena da China anunciou ontem que colocou na “lista negra” mais 15 empresas que comercializam soja brasileira. Segundo o chefe do setor de promoção comercial da embaixada brasileira em Pequim, Mário Ferreira, o governo chinês não enviou qualquer comunicação oficial sobre a decisão, mas a notícia já está publicada no site oficial do ministério.
“O órgão costuma informar à embaixada qualquer caso de quarentena, como já ocorreu em três ocasiões anteriores. Mas até agora não recebemos qualquer informação oficial sobre o assunto”, disse Ferreira. Em relação à notícia de que três carregamentos brasileiros de soja haviam sido bloqueados em diferentes portos chineses na semana passada, Ferreira também informou que nenhuma notificação oficial chegou à embaixada.
“Havia rumores nos últimos dias de que três barcos estavam em quarentena, e que na sexta-feira um deles havia sido liberado. Para nós não chegou qualquer notificação oficial sobre o caso”, completou.
Entre as 15 empresas que estão proibidas de negociar a soja brasileira para a China estão Bunge Agrobusiness Singapore Ltda., Glencore Importadora e Exportadora S/A e a Sumitomo Corp. do Brasil S/A, além da Noble Grain, Cargill, Irmãos Trevisan, Bianchini, ADM, Louis Dreifus e Libero Trading.
Paraná
Segundo produtor nacional de soja, o Paraná está sofrendo as conseqüências da rejeição da carga brasileira, mesma que as empresas não sejam daqui. A opinião é da Federação dos Agricultores do Estado do Paraná (Faep). “Um problema de credibilidade como este atinge o País inteiro, não apenas portos do Rio Grande do Sul e de Santos”, diz Carlos Albuquerque, assessor da Faep. Para ele, a estratégia da China não é apenas embargar cargas que apresentem sementes com fungicidas, mas fazer manobras para que haja redução do preço da soja. “Acredito que seja uma estratégia de mercado. O ?efeito China? já está conseguindo atingir o objetivo, que é derrubar o preço”, acredita Albuquerque.
Segundo ele, o embargo das cargas serve também como advertência às empresas exportadoras. “Mostra que temos que ter mais cuidado com o que exportamos. Hoje há regras, mas algumas empresas simplesmente não as cumprem”, diz.
Na última sexta-feira, o Ministério da Agricultura brasileiro lançou uma série de medidas mais rígidas para tentar controlar o nível de produtos tóxicos presentes na soja. A China é o maior importador de soja e o Brasil o segundo maior exportador do produto, atrás apenas dos Estados Unidos.
Equipe do governo tenta resolver impasse
Uma equipe do Ministério da Agricultura embarca hoje para a China para tentar resolver o impasse criado pela proibição, por parte do governo chinês, das importações de soja de mais 15 empresas brasileiras. A informação foi dada pelo ministro Roberto Rodrigues, que participa da XI Conferência Unctad, em São Paulo. Com as novas proibições, praticamente todas as empresas produtoras de soja no Brasil deixam de exportar à China. Apenas uma trading de Cingapura ainda negocia o produto brasileiro com os chineses.
Rodrigues acrescentou que a decisão de enviar uma equipe à China já havia sido tomada desde sexta-feira passada, e fez a ressalva de que a informação sobre a nova proibição chinesa ainda não é oficial.
A equipe será formada pelo secretário de Defesa Sanitária, Maçao Tadado, e por técnicos do ministério, além do secretário estadual de Agricultura do Rio Grande do Sul, Odacir Klein, e representantes do setor privado. Eles vão se encontrar com técnicos do Departamento de Quarentena da China.
Rodrigues ressaltou que a decisão tomada na sexta-feira, quando o Brasil baixou uma rigorosa norma para o embarque de soja, mostra a boa vontade do governo brasileiro. E que, por isso, espera receber o mesmo tratamento dos chineses.
“Nós tomamos uma decisão importante, adotando uma normativa para mistura de sementes muito mais rígida do que as normas internacionais, muito mais dura, muito mais difícil de ser cumprida, dando uma demonstração muito clara de boa vontade brasileira para resolver essa questão. A gente espera agora que, do lado chinês, também haja uma flexibilização em relação a posições anteriores”, disse Rodrigues.
Nas últimas semanas, a China bloqueou vários embarques de soja brasileira devido a uma suposta contaminação com um fungicida não permitido. Depois de muita negociação com o setor privado, finalmente o governo acertou um padrão para exportação de soja: será permitida uma semente por quilo de grão. Acima disso, a soja terá que ser retida e submetida a análise do nível de mistura. Nesse padrão, a cada cinco mil toneladas de soja é retirada uma amostra de 20 quilos, da qual um quilo é submetido a exame, podendo ter apenas uma semente.
Reciprocidade
Roberto Rodrigues conversou com o embaixador da China no Brasil, Jian Yuande, e fez três pedidos. O ministro solicitou ao governo chinês o envio de inspetores e técnicos ao Brasil, para que seja possível verificar in loco as condições da soja brasileira. Rodrigues deixou claro que as despesas serão custeadas pelo setor privado.
O ministro fez, novamente, um apelo para que a China faça uma revisão dos critérios de classificação de soja importada. As regras atuais são consideradas rígidas demais pelo governo e exportadores brasileiros. E, por último, o ministro da Agricultura pediu que as autoridades chinesas examinem a nova instrução normativa que estabelece um controle duas vezes mais rigoroso do que os Estados Unidos.