Patrões e empregados do setor têxtil se uniram para reivindicar a regulamentação de salvaguardas (barreiras comerciais) contra a China. Para alertar o governo sobre a necessidade de medidas protecionistas, os dois lados marcaram para as 11h de hoje um ato em defesa da cadeia produtiva e do emprego no setor. O protesto deve ocorrer na Praça da Sé, região central de São Paulo.

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Pelas expectativas dos organizadores da manifestação, o ato deverá reunir cerca de 5.000 pessoas. Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de São Paulo, José Carlos do Nascimento, participarão do ato funcionários do setor têxtil de todo o estado. Só de Americana (128 km de São Paulo) virão 40 ônibus.

Em maio, o governo anunciou que iria regulamentar a possibilidade de adoção de salvaguardas contra a China. Antes dessa regulamentação, o Brasil não tinha nenhum instrumento de proteção comercial específica contra a China.

Ou seja, o País podia adotar salvaguardas contra um determinado produto, mas sem restringir a um único país. Agora o País poderá adotar salvaguardas específicas contra a China – para qualquer produto que vier a prejudicar a indústria nacional.

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As salvaguardas só serão adotadas após um período de investigação, que pode durar entre dois e oito meses. Caso a salvaguarda seja adotada, o Brasil poderá impor aos produtos chineses uma tarifa de importação adicional, restrições quantitativas (cotas) ou as duas restrições combinadas. As taxas e as cotas não serão fixas e irão variar de acordo com o impacto que a importação do produto tem no mercado interno.

Nascimento, do sindicato, diz que patrões e empregados querem se reunir com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para tratar do assunto. ?É o primeiro ato de muitos que virão?, afirma.

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Paraná

No Paraná, segundo maior pólo de confecção do Brasil, a concorrência de importados já começa a afetar a produção local. ?A região Noroeste, grande produtora de confecções, já está sentindo os efeitos. O reflexo já apareceu, por exemplo, em cima da mão-de-obra?, apontou o presidente da Associação Paranaense da Indústria Têxtil e de Confecção (Vestpar), Valdir Scalon. Segundo ele, o setor ainda não vem enfrentando demissões, ?mas desde o início do ano, a situação está muito difícil.?

?O grande problema é a defasagem cambial. Com o dólar baixo, ficou interessante para as grandes redes importarem?, afirmou Scalon, para quem a China é uma concorrente forte. ?Na China, a roupa é mais barata. Ao invés de produzir roupas no Brasil, muitos estão preferindo trazer prontas da China.?

Scalon lembrou que até dezembro do ano passado, a importação e a exportação eram regidas por cotas. ?Agora, o fator cota já não existe mais e o fator câmbio está fazendo com que fique interessante importar.?

Para o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário no Paraná, Ardisson Akel, ?a concorrência chinesa atinge vários mercados no mundo todo?. ?A economia européia está voltando a impor restrições para controlar o fluxo de produtos chineses?, lembrou. Segundo Akel, a concorrência chinesa é mais forte em determinados setores. ?O Brasil, por exemplo, sempre foi um grande exportador de sapatos e agora está recebendo sapatos chineses.?

O Noroeste paranaense tem mais de 12 centros atacadistas e pronta-entrega, com mil lojas de atacado. A região recebe 30 mil compradores por mês, vindos dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro, Sul de Goiás e de todo o Paraná.