China agora barra a soja da Argentina

Após chegar a um acordo para liberar a importação de soja brasileira, o Ministério da Quarentena da China barrou a entrada de soja argentina no país – um lote equivalente a US$ 13,5 milhões. Um carregamento com 50 mil toneladas de soja foi proibido de desembarcar no Porto de Shenzhen, na província de Guangdong, no sul da China, na tarde de anteontem, segundo informações veiculadas ontem pela imprensa argentina.

O Ministério da Quarentena chinês alegou que a soja exportada pela Argentina tinha problemas fitossanitários – mesma justificativa dada pelo embargo à soja brasileira. Anteontem, a China aceitou as novas regras brasileiras para a exportação de soja. O Brasil se comprometeu a não deixar ultrapassar, nas amostras, o limite de uma semente contaminada com fungicida por quilo de soja. Nos EUA, por exemplo, a tolerância é de três sementes contaminadas por quilo.

O embargo ao produto brasileiro vigorava desde abril. Nesse período, a China chegou a suspender a entrada da soja de 23 empresas brasileiras alegando problemas fitossanitários.

Os chineses afirmaram ter encontrado sementes com Carboxin na soja destinada à alimentação humana ou animal exportada pelo Brasil.

Visita

O impasse acontece uma semana antes da chegada do presidente Néstor Kirchner, que desembarca no país acompanhado por uma delegação de 200 empresários locais. A visita será entre os dias 28 deste mês e 2 de julho.

Na semana passada, durante participação na 11.ª Unctad, o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, disse estar preocupado com o embargo à soja brasileira e seus possíveis efeitos sobre as exportações argentinas.

A Argentina é o terceiro maior produtor de soja do mundo – atrás dos EUA e do Brasil. A China é o principal parceiro comercial da Argentina na Ásia e o maior comprador da soja produzida pelo país.

Em 2003, a Argentina exportou 6 milhões de toneladas de soja para a China, cerca de US$ 2 bilhões. No total, as vendas argentinas para o país somaram US$ 2,5 bilhões.

Preço

O fim do embargo chinês à soja brasileira aconteceu após uma forte queda nos preços da commodity – causada, entre outros fatores, pelo próprio veto chinês ao produto brasileiro.

Projeções do Ministério da Agricultura e de associações ligadas aos produtores estimam que as perdas tenham superado US$ 1 bilhão. Segundo a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), a queda no preço da soja no período recuou de US$ 320 para US$ 260 a tonelada.

Chineses não vão fazer pré-inspeção

Autoridades da China abriram mão da possibilidade sugerida pelo governo brasileiro de mandar técnicos para inspecionar o carregamento de soja com destino ao mercado chinês. “Os chineses não inspecionarão as cargas, ou seja, não farão a pré-inspeção. Talvez eles mandem técnicos para fazer uma supervisão, mas não se falou em datas”, relatou ontem o chefe da Divisão de Cooperação Técnica e Acordos Sanitários Internacionais do Ministério da Agricultura, Odilson Ribeiro, que integra a missão oficial do governo brasileiro que está em Pequim.

Os chineses, disse Ribeiro, consideram que as medidas adotadas pelo ministério são rígidas e evitarão a mistura de sementes tratadas com fungicidas em carregamentos de soja. A China, porém, pode suspender os carregamentos de soja que estiverem fora do padrão. “Mas, com a instrução normativa, a possibilidade de haver sementes tratadas com fungicidas nos lotes é mínima. Não estamos trabalhando com risco zero, mas sim para minimizar esse risco”, afirmou, referindo-se às normas rígidas adotadas pelo País no dia 11 de junho. “Se fôssemos trabalhar com risco zero, nós travaríamos o comércio.”

As negociações entre os dois países determinam ainda que os carregamentos de soja que saíram do País antes do dia 11 de junho – data da divulgação das regras mais rígidas para controle dos grãos – mas ainda não chegaram aos portos chineses serão inspecionados com procedimento de amostragem e inspeção.

Para cargas que saíram dos portos brasileiros depois do dia 11, Ribeiro não prevê dificuldades no desembarque na China. “Esses navios cumprem procedimentos de amostragem bastante rígidos que foram estabelecidos pela instrução normativa”, disse. Ele informou que as estimativas indicam que 20 navios carregados com soja zarparam antes do dia 11 e ainda não chegaram aos portos chineses.

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