O curitibano pagou mais caro pela alimentação essencial no mês de junho. A alta, de 0,10%, elevou o custo da cesta básica de R$ 124,53 para R$ 124,65 – aumento de R$ 0,12. Apesar da baixa variação, Curitiba fechou o mês apresentando a quinta cesta mais cara do País, atrás de Porto Alegre (R$ 134,41), São Paulo (R$ 131,50), Rio de Janeiro (R$ 125,09) e Florianópolis (R$ 124,72). Na capital paranaense, o acumulado no ano é de -4,61%, enquanto o acumulado em 12 meses é de 4,16%. Esses e outros dados foram divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).

Dos treze produtos que compõem a cesta básica, cinco tiveram aumento no mês passado na capital paranaense: tomate (23,76%), arroz (16,30%) e óleo de soja (8,59%) foram os itens que mais contribuíram para a alta do índice, seguidos por banana (5,13%) e farinha de trigo (2,06%). Em contrapartida, apresentaram queda a batata (-15,33%), o feijão (-9,76%), açúcar (-7,14%), café (-6,70%), manteiga (-2,55%), pão (-0,69%) e carne (-0,15%). O preço do leite permaneceu o mesmo.

Segundo o economista e técnico do Dieese-PR, Sandro Silva, as altas do tomate e do arroz têm explicações semelhantes: ambos estão no período de entressafra e o Paraná não é auto-suficiente na produção desses dois produtos. No caso do arroz, o Estado depende do Rio Grande do Sul, e o tomate vem principalmente de São Paulo. Já o aumento do óleo de soja é creditado à variação cambial. “Com a desvalorização do real, houve redução de oferta no mercado interno para as empresas assim exportarem mais”, explica. Com relação ao feijão, que acumula deflação de 28% desde o início do ano -foi o produto que apresentou maior queda no primeiro semestre -, Silva explica que é conseqüência da alta registrada em 2001, quando o grão subiu 150%. “Também houve redução no consumo, em função do clima”, completa. Já a batata e o açúcar, que também apresentaram redução de preço, encontram-se em período de início de safra e há grande oferta no mercado.

Uma das surpresas tem sido o preço da carne. Segundo Silva, nessa época do ano registra-se normalmente alta do produto, mas há dois meses o valor permanece estável. Para ele, o fato tem duas explicações: o inverno pouco rigoroso e a redução da renda da população. “Como as pessoas estão ganhando menos, gastam menos e há retração no mercado.”

Para o mês de julho, a previsão é que haja novo aumento da cesta básica em Curitiba. “Principalmente se o dólar continuar em alta”, salienta Silva, acrescentando que a moeda influencia principalmente nos preços da farinha de trigo – quase 80% é importada – e do óleo de soja.

Assinatura subiu mais de 4.000%

Se o preço da alimentação essencial tem variado relativamente pouco desde o início do Plano Real – cerca de 94,77%, segundo o Dieese – o mesmo não acontece com tarifas públicas como telefone, energia elétrica, água e esgoto. Desde que o Plano foi implantado, em julho de 94, a energia elétrica subiu 228,28%; a tarifa do ônibus, 237,50%; o pulso local do telefone fixo, 266,33%; a água e esgoto, 147,47% e o correio (carta simples), 300%. O disparate, no entanto, ficou por conta da assinatura residencial do telefone fixo: passou de R$ 0,61 para R$ 27,35 – aumento de 4.383,61%. Para Sandro Silva, do Dieese, a alta é fruto principalmente da privatização das estatais. Segundo ele, quase 30% das despesas do trabalhador brasileiro são com tarifas públicas, administradas ou monitoradas. O acumulado da inflação no mesmo período ficou entre 116% e 138%.

Com base em dados do Dieese, Banco Central e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silva afirma que “houve um crescimento muito pequeno da economia brasileira desde o Plano Real.” Se por um lado a inflação diminuiu drasticamente – passou de 1.129,88% para 7,50% (previsão para este ano) -, por outro o Produto Interno Bruto (PIB) real passou de 5,85% para 1,51% em 2001. Já a dívida externa aumentou: de US$ 148,30 bi para US$ 226 bi (ano passado). O salto da dívida interna foi ainda maior: de R$ 59,40 bi para R$ 675 bi. O reflexo, lembra Silva, é o aumento de desemprego e a queda na renda do brasileiro. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) mostram que em 95 eram cerca de 265 mil pessoas desempregadas no Paraná. No Censo 2000, esse número saltou para 547 mil. “A nossa crítica é quanto à meta de inflação, que por ser tão restritiva acaba penalizando a população. É claro que precisa existir uma meta a cumprir, mas também tem que se privilegiar o crescimento da economia, buscar melhor renda”, analisa o economista. (LS)

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